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Embora tenha nascido no estrangeiro, foi em Angola onde se tornou conhecido no mundo da música por trabalhar com músicos renomados. O artista, considerado “Pai do Solo” e um dos vencedores do festival da Canção de Luanda, em 2006, narra que a música entra na sua vida por influência da sua família. Por ironia do destino, foi no ex-Zaíre onde aprendeu as primeiras técnicas vocais com maestros como o seu falecido avô

Depois dos seus pais emigrarem para a República Democrática do Congo (RDC), ex-Zaíre, devido o conflito armado que assolava Angola, nasce em 1973, naquele país irmão, Adão João Gomes de Miranda, conhecido no mundo artístico como “Dodó Miranda”. A música entra na sua vida por fazer parte de uma família de cantores evangélicos, já que os seus pais são pastores. E neste ambiente coral, em sua casa e nos ensaios da Igreja da Comunidade Menonita do Congo, a sua mãe sempre levava o cassula para não ficar sozinho.

Foi na denominação religiosa onde foi ouvindo os cânticos dos corais de todas as faixas etárias. Mas, por seguir sempre os passos e movimentos dos seus irmãos mais velhos, começa a cantar no Coral dos Magos, um grupo coral juvenil, criado na República Democrática do Congo.

Em 1977, com apenas 4 anos, começa a ouvir as primeiras notas musicais e, de forma engraçada, acaba por ingressar no coro juvenil por ter sido o único a conseguir as partituras que o mestre Joasse Ipipo havia deixado. Dodó Miranda era destacado entre os seus colegas porque tinha uma enorme capacidade de memorizar os conteúdos das partituras musicais. 

Na altura, na RDC, o Coral dos Magos – actualmente conhecido como Embaixadores de Cristo – da igreja em que pertence (Igreja da Comunidade Menonita em Angola), tinha solicitado um técnico para melhorar o desempenho musical dos coristas, porque os seus elementos queriam actualizar os conhecimentos em relação ao canto e as técnicas vocais.

Para tal, tiveram de solicitar os préstimos do maestro congolês Joassain Ipipo Zorino, pelo elevado grau de formação em canto e por ter conseguido ensinar Dodó e outros elementos, os métodos de apontamento vocal tonic solfa e soul fashion.

Por serem filhos de refugiados angolanos e terem mais tempo livre, a dedicação integral aos estudos académicos e à música, particularmente ao canto, ganhou destaque na vida dele e dos demais colegas.

CORAL DOS MAGOS

Com menos de 25 elementos, o grupo coral, que  era formado por filhos de refugiados angolanos na RDC, trabalhava de quatro a cinco sessões de ensaios por semana.
Dodó Miranda entra como assistente do grupo aos 6 anos de idade; aos 8, torna-se um dos regentes (dirigente) e aos 12, passa a ser o director técnico, até que regressou a Angola, em 1991, com a família e a maior parte dos refugiados que se encontravam naquele país.

O artista revelou em exclusivo ao Portal Marimba Selutu que o seu avô, o Reverendo Adão Pedro de Menezes foi um dos seus maestros e uma das primeiras pessoas a ensinar os hinos da sua vida. Também havia os irmãos Leite e os mais velhos Zeca, bem como o maestro Bernardo, este último também conhecido por Rosa Coutinho, que foram também importante na sua formação musical.

Por outro lado, quando Dodó Miranda chegou a Angola, já se fazia boa música, porque o artista vinha sempre de féria e quase todos os anos, transportava consigo, quando regressava para RDC, os discos dos Top dos Mais Queridos.

Assim sendo, nos anos 80, o compositor já tinha uma ligação com a música angolana como as de Mamborró, Maya Cool e outros artistas do programa Pio Pio. “Claro que eu tinha um elemento, quando cheguei [a Angola], que era a harmonia nos coros ligeiros das músicas seculares e que se calhar, não se desse ainda conta, mas que já existia. Portanto, na época, eu conseguia harmonizar e implementá-la.”, sublinha.

TRABALHO COM MÚSICOS

Depois de algum tempo, o instrumentista, se inscreveu na Academia de Música de Luanda por onde começa a estudar Prática Coral e Conjunto, Orquestração e outros géneros musicais.

O seu destaque entre os demais estudantes durante os recitais, deram-lhe oportunidade de ser um dos convidados para trabalhar com os N’Sex Love, altura em que este grupo estava a preparar a sua obra “Loucura”, nos anos 90. “Isto foi tão bom que, para mim, era como se fosse um exercício prático!”, frisou o também considerado “Pai do Solo”, acrescentando que depois daquele trabalho, teve contacto com as Jingas, os Versátis e com Eduardo Paim.

O também pastor sustentou que foi com Eduardo Paim que se projectou no mercado nacional, porque naquela altura, o “Pai da Kizomba” já trabalhava em alguns projectos musicais como “Pomba Branca” e com artistas como Paulo Flores, Euclides da Lomba, SSP.

A música folclórica ainda é posta de parte, não tem aquele protagonismo

Naquele período, algumas pessoas da sua congregação religiosa, começaram a pensar que ele estava a desviar-se do caminho de Deus. “Graça a Deus, eu tinha sempre os pés muito bem firme. A família e os amigos aconselhavam-me a continuar, porque, na verdade, estava em busca do conhecimento”, rematou. 

ESTADO DA MÚSICA

Quanto ao estado da música angolana, o músico considera que está a caminhar bem, mas alerta que há ainda problemas internos e de aceitação como alguns tabus por se resolver. “Por exemplo, a música folclórica ainda é posta de parte, não tem aquele protagonismo.”, observou, opinando que é um problema que tem a ver com a identidade e os valores angolanos.

Por outro lado, acha que o Ministério da Cultura tem de trabalhar mais e criar políticas. “Nós, os músicos, no nosso caso específico, não queremos passar por pedintes. Queremos, no entanto, que se revejam as políticas, os empréstimos ou os investimentos no nosso seio.”, apelou o produtor que espera mais acções das empresas multinacionais para contribuírem, com apoios à música, na produção de músicos angolanos: “já é tempo de termos aqui uma indústria de disco.”

Partilhando uma das ideias do músico Totó, que publicamos recentemente, o músico lamentou o défice de empresário musical no mercado nacional. “Temos pouco pessoal [empresário] que está ligado as artes, não sei se é por conveniência ou por afinidade, mas não olham para todo mundo. Claro que também compreendo, não podem olhar para todo mundo. Por exemplo, nem todo tem de ficar numa LS Produções.”, concluiu.

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