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O promotor cultural mais conhecido do País, Henrique Miguel, “Riquinho”, que se considera um dos cinco maiores promotores de evento musical do mundo, afirmou que quando começou não havia nepotismo e corrupção, mas os que surgiram depois dele, estão todos milionários.

Nesta entrevista bombástica e sem ‘papas na língua’, o empresário faz fortes revelações sobre assuntos que até então, são desconhecidos pelo público.

O também patrão da CasaBlanca fez saber que o único cargo que lhe podia emocionar é o de ser assessor cultural do Presidente da República, já que se intitula ministro da Cultura sem pasta. E deixou um recado que não pode passar despercebido: “Se o MPLA não me aproveitar ou se acha que não tenho valor, vou para um outro partido, se me convidarem”.


Sublinha igualmente que é o maior organizador de evento de todos os tempos de Angola e vai trabalhar por mais 20 anos


Fernando Guelengue

e Pedro Muhongo

Em 2011, numa entrevista que concedeu a um órgão de comunicação, afirmou que a CasaBlanca seria a primeira em relação showbiz, dentro de 10 anos. Achas que já atingiu este desiderato?
Não só nos mantivemos como a melhor em 2011, mas também somos a maior empresa (cultural) de Angola de todos os tempos, acho que a entrevista de Salú Gonçalves (que o Portal Marimba publicou) diz tudo. Não é ético falar de nós ou de mim. Sentimo-nos os maiores produtores de espectáculo da história de Angola. Eventualmente, só Luís Montez (empresário cultural), do tempo colonial, é que nos faz sombra. Não se julga um promotor por três ou cinco espectáculos, ou por espectáculos patrocinados. Os meus eventos nunca tiveram um patrocínio da Sonangol ou da Endiama. Então, não se pode comparar um espectáculo com patrocinador e outro sem patrocinador. E durante 30 anos nunca tive patrocinador e fiz ‘maravilhas’. Tenho consciência e sei que sou o maior da história. Perdi muitas noites e a minha juventude, vou defender este título com trabalho. Vou continuar a trabalhar com eventos por mais 20 anos. Se disse que naquela altura me manteria como melhor em 10 anos, se calhar me expressei mal, porque já era o maior em 2011. E mantive isto.

Há quatro meses que não faço evento, mas também existem outros promotores que não estão a fazer

E como estão os novos movimentos culturais da sua CasaBlanca?
Em 2012 e 2013, fizemos as “Quartas Tropicais” até 2014. Depois de sair da ‘féria’ de Viana (cadeia), recomecei em 2016 e 2017, no HCTA.
O último espectáculo que fiz foi em Fevereiro, na altura do Carnaval, praticamente há quatro meses que não faço eventos, mas também existem outros promotores que não estão a fazer. E este ano, a Casa 70 fez um ou dois eventos. Eu continuo no mercado, embora já não esteja a fazer os 50 espectáculos anos. Este ano já fiz o “Réveillon”, “Galas dos Namorados”, “Galas das Mulheres”, “Carnaval” e a “Gala da Paz”. Já fiz eventos para o ano todo! Porém, há promotores que eventualmente este ano ainda não fizeram algo. Ou apenas realizam um ou três. A LS está agora com o Time de Sonho. Eu continuo na minha regularidade, não parecendo. O ano passado, fiz 10 galas: “Réveillon”, “Galas dos Namorados”, “Galas das Mulheres”, “Carnaval” e quatro “Quartas Tropicais” e há eventos mensais, quando chegarmos ao final do ano estes estarão com 12 espectáculos realizados. E eu com os cinco realizados este ano já estou entre os cinco, se aparecer um outro promotor que faça sete ou oito, estarei sempre aí (naquele lugar). E durante 30 anos estive sempre como primeiro. Agora numa situação de menos produção, estou entre os cinco primeiros, mantendo a hegemonia.

Na qualidade de empresário cultural, pode nos dizer se existe no país, bancos especializados para apoiar os promotores de eventos e empresários culturais?
Especializado, não. Os bancos não se especializam neste aspecto. Os bancos têm outro tipo de negócio. Mas, há banco como o Atlântico que organizou um festival, “Vozes do Atlântico”. Existem dois ou três bancos que têm feito investimentos na Cultura. E isto beneficia, porque cultura é cultura. Ou como diz o slogan do Ministério da Cultura: “A Cultura fortalece a Nação”. Os bancos devem continuar a apoiar.

Numa entrevista, o Presidente da República, João Lourenço, depois de ter reunido com os artistas, disse que se criaria um banco específico para apoiar a cultura nacional. Qual é a avaliação que faz em torno desta promessa?
Oh! Há esta ideia?! Mas, os artistas só foram ao Palácio Presidencial em Janeiro para dar os cumprimentos ao Presidente da República porque tinham cantado no Palácio, no final do ano. E o Presidente recebeu-os em gesto de agradecimento. As pessoas confundem muito! O que se passa é que os Presidentes gostam de retribuir com recepções ou audiência à parte, sempre que um músico Lhe brinda com um espectáculo. Não foi exactamente que convocaram os músicos para isto. Eventualmente na entrevista, o Presidente terá dito isto. Portanto, acho uma boa ideia a criação de um banco cultural para financiar os músicos. E todos os músicos tinham de abrir uma conta neste mesmo banco. Porque, um banco vive de dinheiro. A não ser que fosse uma caixa como é o Banco Africano de Desenvolvimento – BAD ou o Banco de Desenvolvimento Rural. Com um banco cultural, teríamos uma experiência boa, onde, se calhar, os empresários seriam igualmente accionistas. E eu talvez me candidataria a ser um dos accionistas.
Eu nunca recebi algum apoio, mas sim financiamentos bancários. A dívida que o Estado tem comigo é uma vez e meia, maior do que a que tenho com o BPC
O senhor empresário disse que já necessitou do financiamento de um banco para exercer a sua actividade como por exemplo o Banco de Poupança e Crédito – BPC.

Mas foi mencionado de não ter pago parte da dívida que contraiu neste banco. O que lhe oferece a dizer?

Não só uma parte, uma ‘partona’ muito grande! (risos!) Terei sido talvez um dos poucos empresários que veio ao público e assumiu esta dívida com o BPC. Para destrinçar até que nunca fui apoiado, porque as pessoas confundiam muito. E foi bom que esta lista apareceu, porquanto há dívida. Eu nunca recebi algum apoio, mas sim financiamentos bancários. Com isto, eu gostaria de dizer que a dívida que o Estado tem comigo é uma vez e meia maior do que a que tenho com o BPC. Portanto, se o Estado pagar os serviços que eu prestei, feitos a favor da nação, liquidarei esta dívida. Porém, os ministros ou os governantes apenas querem puxar os dinheiros para as suas empresas, logo, eles tardaram ou não queriam reconhecer isto. Ora, quem faz um Afrobasket à vista de todo mundo, quem leva uma delegação de 350 pessoas para o Mundial de Futebol na Alemanha, a promover Angola; quem leva uma delegação de 350 pessoas para o Festival Mundial da Juventude dos Estudantes e quem promove a Cultura da maneira que nós promovemos, não precisa de contratos ou apresentar prova, porque são actos públicos. Quem precisa de apresentar provas, são as pessoas que criaram dívidas falsas, alegando que construíram estradas no Cuando Cubango. Ou, aqueles que disseram que compram estrumes para o Cunene, que na verdade não os compraram; ou aqueles que foram fazer o carregamento de areia em Malanje, mas que encaixaram (desviaram) o dinheiro.

E como os ministros só estão habituados a roubar e aldrabar o Estado com dívidas falsas, pensaram que as minhas também fossem

Está a dizer que há mãos invisíveis no Ministério das Finanças?
O grande problema que está aqui, é que 90 por cento das dívidas que entraram no Ministério das Finanças, eram todas falsas. Então, os ministros das Finanças, que só estavam habituados a ver dívidas falsas, quando viram os processos da CasaBlanca pensaram também que as dívidas eram falsas. E como os ministros só estão habituados a roubar e aldrabar o Estado com dívidas falsas, pensaram que as minhas também fossem. Hoje estamos a ver que afinal de contas, todas essas dívidas dos quais 10% são verdadeiras, 5% são do Grupo Casa Real. E são verdadeiras por quê? Porque todo mundo assistiu ao Afrobasket. Quem é que não viu que nós organizamos o Afrobasket?

O dinheiro da Dívida Pública acabou porque há poucas empresas que têm dívidas verdadeiras

Quer explicar melhor?
Então, como é que a dívida vai ser falsa? Entendam, 90% das dívidas falsas foram parar ao Ministério com Contratos. Não é o contrato que prova que toda a dívida é falsa ou verdadeira! Porque, eu posso fazer um contrato falso e foi o que aconteceu. Portanto, estas dívidas falsas destes ministros todos, que entre eles criaram empresas fantasmas para roubarem o Estado, têm contratos. E o que aconteceu foi que eles (ministros das Finanças) pagaram as dívidas com contratos falsos e as dívidas verdadeiras, que são as minhas, não pagaram. Assim, o Estado disponibilizou biliões para pagar as Dívidas Públicas e o que estes senhores fizeram, foram pagar as dívidas das suas próprias empresas. E o dinheiro da dívida pública acabou porque há poucas empresas que têm dívidas verdadeiras. Eu, Henrique Miguel, “Riquinho”, afirmo isto! Eu diria até que 99% das dívidas são falsas, mas para não ser muito duro, reitero apenas 90%. Tudo aldrabices! Como os malandros estavam habituados aldrabar, tudo que entrava no Ministério das Finanças, tinha de ser negociado à 30, 40 ou 50 % de comissão. Eu como nunca negociei com ninguém, porque as dívidas são do meu suor, não validavam ou não pagavam. Vamos ver agora, pelo menos duas já estão validadas e espero que validam o resto.

Foto:

O montante da dívida que Estado têm do senhor, equipara-se com que o Riquinho tem com o BPC?

O dinheiro que o Estado deve-me dá para pagar a dívida do BPC e ainda sobrar com a metade. Por isso, não estão a resolver o meu problema. Se este problema não estivesse a meu favor ou se a balança de pagamento estivesse a meu desfavor, ninguém perderia tempo para discutir comigo. Ou seja, teriam pego o Riquinho e posto na cadeia ou penhoravam os bens. Eu devo 50 milhões de dólares ao PBC, entretanto, o Estado deve-me 75 milhões, significa que tem de me pagar 25 milhões. Se nestes 25 milhões saíssem 12 milhões e meio para os ministros, a dívida já estaria paga há muito tempo. Ou, se 50 milhões saíssem 20 milhões para o ministro ou quem for, o assunto estaria resoluto. Neste caso, já não tem ‘micha’ para ninguém porque o meu assunto criou uma polémica pública. Não existe mais outra explicação para dar sobre o meu caso! Aliás, contra factos não há argumentos. Relativamente aos contratos, os meus projectos foram de 2012 para baixo. A Lei da Contratação Pública, só entrou em vigor em 2012. E entrando neste ano, a lei não tem retroactivo, não abrange os anos anteriores. Mas quando a lei não abrange, dá-se ao réu ou ao mais desfavorecido, o in dubio (expressão latina que significa a favor do réu). Neste caso, a parte mais fraca somos nós, o Estado terá de nos pagar. Quer dizer que a Lei da Contratação Pública com relação aos meus projectos não faz fé. Porque, os meus projectos foram feitos em 2004, 2005, 2006 e 2007. Quem não tiver contrato a partir de 2012 não recebe. Eu já sou ministro da Cultura há muito tempo, só que sem pasta! Quem é o ministro que fez o trabalho que eu fiz na Cultura?

Dada a sua experiência no mundo da cultura, tem alguma esperança que um dia chegue a ser ministro da Cultura?

Eu já sou ministro da Cultura há muito tempo, só que sem pasta! Quem é o ministro que fez o trabalho que eu fiz na Cultura? Até não digo ministro, quem é o angolano que trabalhou mais na Cultura do que eu? E neste País só há um posto que me poderá emocionar, é o de ser assessor do Presidente da República na área da Cultura ou do Desporto. Ou, ser deputado na próxima Legislatura, mas não sei ainda por que partido. Se o MPLA não me aproveitar ou se acha que não tenho valor, vou para um outro partido, se me convidarem.

Em relação ao ramo empresarial, já pensou em criar uma televisão especializada em música?
Eu já fui convidado para muitos projectos, audiovisuais, televisivos e de redes sociais. Tenho dito que cada caranguejo tem de estar no seu devido lugar. Acho que rendo mais como assessor cultural do Presidente da República e como promotor de grandes festivais do Estado em Angola, por meio da realização de grandes festivais nacionais e concertos internacionais que envolvem a vinda de estrelas mundiais e outras coisas. Porque, os outros empresários não têm estas capacidades por carência de marketing ou know-how para ir ao estrangeiro e trazer os artistas. Como também, levar estes concertos para fora do País. Acho que estou mais para os grandes eventos, rendo mais aí do que me meter em áreas que não conheço, o que seria uma descoberta ou aventura. É claro que a minha força de espírito, a minha agressividade empresarial pode ser aproveitada para as outras áreas. E para ser aproveitado para estas áreas seria para dirigir e orientar homens e coordenar projectos cooperativos como uma fazenda. Por exemplo, também tenho habilidade em gerir transportes, porque já tive uma frota de 300 de autocarros.
Por causa da minha rigidez, tenho habilidades em projectos de grandes dimensões que envolvem um capital humano elevado. Porque, há muito roubos praticados por gestores ou tem sido falta de autoridade, pois tenho aptidões para impô-la em projectos que, as vezes, pecam por falta de um bom gestor.

Tem usado o Facebook para enviar recados, sobretudo, para o Presidente da República. Como está o processo da sua dívida junto da Presidência da República?

O grande problema é que as pessoas não gostam da verdade. O Presidente da República disse que os cidadãos deviam usar as redes sociais para denúncia. Quando as pessoas começam a denunciar, nos dizem que não podíamos denunciar tudo. Ora, só aquilo que lhes convém. Ora, vão criar uma lei reguladora da internet, isto é complicado! A democracia é livre e não se faz com recados, mas com actos. Esta grande abertura que temos hoje, só é bom para o País. Aliás, o próprio Presidente disse que os ministros têm de aprender a conviver com a crítica. Portanto, a crítica só faz bem. E estes últimos tempos temos visto que o País está mais saudável. Ficar a saber que Zenu (filho do ex-Presidente da República) tentou fazer uma burla de 500 milhões de dólares, isto faz bem ao ego de qualquer angolano. Se antigamente pensasse nesta possibilidade (Zenu indiciado pela Justiça), era quase cadeia. E ter conhecimento hoje de que o ex-governador do BNA é arguido, faz bem a uma Nação. Confundiu-se durante muitos anos, falar a verdade com a difamação. O grande problema, é que provar um crime de corrupção é sempre muito difícil em qualquer parte do mundo. Só se prova corrupção quando há uma Justiça forte ou há uma investigação forte. Espero que o nosso País também tome isto como exemplo e continue a responsabilizar quem desviou ou infringiu a Lei.

Quando um secretário jurídico do PR diz primeiro uma coisa, depois diz outra que se contradiz, eu peço a demissão deste homem ao Presidente, porque não está a fazer nada

Quando um secretário jurídico do PR diz primeiro uma coisa, depois diz outra que se contradiz, eu peço a demissão deste homem ao Presidente, porque não está a fazer nada

Quer ser mais claro?
Eu, por exemplo, tenho um documento do secretário jurídico do Presidente da República que nos apela a termos calma e não pedirmos muitos juros na dívida, bem como a não levar os processos das dívidas ao Tribunal. Mas, depois tenho um outro documento da Sonangol a dizer que fizemos uma publicidade no Afrobasket sem autorização, ou que fizemos à revelia e que não nos devem. Temos ainda outro documento do secretário que diz que a Sonangol diz: ‘a publicidade foi à revelia’, logo, resolvem o caso nos tribunais. Quando um secretário jurídico do PR diz primeiro uma coisa, depois diz outra que se contradiz, eu peço a demissão deste homem ao Presidente, porque não está a fazer nada.
Todo mundo sabe que a Sonangol está a mentir. Nós publicamos o documento enviado por esta empresa nas redes sociais. Sabia tanto que foi com os seus próprios meios fazer a publicidade. O nosso problema é que os dirigentes não gostam de se preocupar com assuntos que eles não têm interesses pessoais. Não temos dirigentes que entram para o Estado para trabalhar com os seus salários. Só os teremos daqui a 10 anos!

E como pensa resolver o seu problema?
Nenhum governante está sentado na sua cadeira para resolver os problemas do povo. Primeiro, ele quer ter uma casa no Mussulo, em Portugal ou ter milhões. Isto não vai mudar, porque são as mesmas pessoas. Embora reconheça que está a mudar aos poucos e que também já mudou muita coisa como é o caso da luta contra a corrupção e roubos que foram desmacarados. Eu falo claramente, tenho provas e desmascaro (os dirigentes corruptos). O meu assunto era para ser resoluto há bastante tempo, mas eles têm interesses pessoais lá. Ou seja, não irão ganhar nada neste assunto. Eles ainda estão preocupados em incluir as suas empresas na Dívida Pública – para meter as empresas do primo ou do irmão, porque estão preocupados em criar consórcios.
O exemplo mais claro é este consórcio de aviação que o Presidente da República inviabilizou o negócio. Os dirigentes não estão preocupados com os empresários e nem com a Dívida Pública. Eu disse e coloquei no Facebook para o Presidente João Lourenço exonerar toda ‘cambarilha’ que fez o consórcio público. Aí, iria bater palmas.
As pessoas que fizeram o consórcio público são o ministro dos Transportes (João Tomás), Chefe da Casa Civil (Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso) e da Casa de Segurança (Pedro Sebastião) da Presidência da República e o irmão do Presidente João Lourenço (Serqueira João Lourenço), que não sei qual é o cargo que ocupa na Casa de Segurança do PR.

O Chefe da Casa Civil, que entrou agora, já está preocupado em criar consórcio de aviação? Com esta mentalidade, para onde vai parar este País?
Penso que não seria apenas o ministro que deveria ser exonerado! Porque isto seria um grande exemplo. Então, o Chefe da Casa Civil, que entrou agora, já está preocupado em criar consórcio de aviação? Com esta mentalidade, para onde vai parar este País? É tudo uma brincadeira! Eu faço um apelo ao Presidente, porque também sou crítico, mas não gostei da entrevista do meu colega Bartolomeu Dias. Pelo que bato-lhe palmas pela coragem. Por que motivo ele (Bartolomeu) não veio fazer negócio comigo ou com os outros empresários? Porque que foi buscar o ministro dos Transporte? Nós, os empresários, também somos culpados e temos essa mentalidade, pois só queremos ser sócios dos ministros. Mas, Bartolomeu Dias tem razão, porque se fizesse sociedade comigo ou com outro pé rapado qualquer, a empresa não seria criada! Acha que não há interesses do ministro ou do secretário das Telecomunicações pela empresa que vai ganhar o concurso da telefonia móvel? Acham que é uma empresa qualquer? Claro que há este interesse! Por exemplo, também estava a concorrer com a Casa Fone.

Aqui quando um governante deixa um cargo, sai bilionário. Estes gajos vão ter de me aturar! Ou matam-me

No meio de todo este sistema montado, a sua empresa também concorreu neste concurso público de telefonia?
Foi riscada! Continua o tráfico de influência e vai continuar por mais 5 ou 10 anos! Porque, todos querem viver bem e ter dinheiro! Em Angola ainda não existe a cultura em que um ministro é servidor público, como a ex-presidente do Chile (Michelle Bachelet) que deixou o poder com património de apenas um apartamento. Pelo contrário, aqui quando um governante deixa um cargo, sai bilionário. Estes gajos vão ter de me aturar! Ou, matam-me. Porque não estou contra ninguém, eu sou contra as injustiças. Se o Presidente João Lourenço for justo, estarei com ele. Se for ao contrário, estarei contra ele. Eu não devo nada a ninguém, não tenho rabo-de-palha e nada a temer! Sempre trabalhei sozinho e cheguei onde cheguei sem nepotismo, tráfico de influência ou compadrio. Sou um homem de cultura e desporto há 30 anos. Na altura em que comecei a fazer espectáculos ainda não havia corrupção ou nepotismo, todo mundo ia ao Horizonte 300 e hoje não estou milionário. E os que vieram depois de mim estão todos milionários. Eu sou exemplo de um trabalhador honesto, um empresário que batalha.

A minha cadeia envolveu mais de 5 milhões de dólares, o objectivo era prender-me. O meu sócio no Jornal Continente deve-me mais de 2 milhões de dólares

Na qualidade de um homem da promoção musical, não podemos deixar de falar da sua prisão. Normalmente, quem está numa cadeia pensa em trazer ideias inovadoras…
Bom, é assim: até hoje o meu processo não foi julgado no Tribunal Supremo. Aceitei sair pela amnistia, por causa da família. Numa situação normal, eu não aceitaria – faria como fez o Rui Monteiro quando lhe foi atribuído o Prémio Nacional da Cultura, recusou. Porque, ele já o merecia antes. Fui parar na cadeia através de um processo de super corrupção, a todos os níveis. A minha cadeia envolveu mais de 5 milhões de dólares, o objectivo era prender-me. O meu sócio no Jornal Continente deve-me mais de 2 milhões de dólares. Se tivesse vendido as quotas, devolveria o dinheiro ou receberia as quotas, nas piores das hipóteses. Aconteceu que trocaram tudo! Criaram-me um problema, mas já faz parte do passado. Felizmente, estou hoje aqui e as pessoas que me criaram este problema, não dormem – estão pior do que eu: Álvaro Sobrinho está com problema em todo mundo, que é a pessoa que comprou as minhas quotas. E os outros estão aí em debandada, mais mortos do que vivos.
Mas pode dizer sobre a sua experiência na cadeia?
Vivi boas experiências. Os grandes líderes passaram por momentos difíceis: o Fernando Miala esteve também preso; Agostinho Neto e Nelson Mandela também estiveram, são pessoas fortes. Sempre fui uma pessoa desta natureza e dono das minhas próprias convicções, o que fortificou-me ainda mais. Se observarem bem aqueles vídeos que tenho postados, perceberão que é fruto de ter passado lá (na cadeia). Sou um homem destemido e nada mais me assusta, nem a morte. Porque, quem passa por lá já está morto, mas acordado – vê e conhece tudo aquilo.

https://www.youtube.com/watch?v=QmnMGNkYGAY&t=4s

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