Durante uma conversa amena e saudável com Pierre Edouard Décimus, Jacob Desvarieux (KASSAV) e Eddy Compper (produtor musical antilhano), à margem da cerimónia de inauguração da Casa do Zouk, em Junho de 2012, em Luanda, dissemos (lhes) que um dos nossos desafios é colocar a música angolana cantada em línguas nacionais na rota dos grandes eventos internacionais, sem perder de vista a necessidade de uma maior aposta na parceria músico-cultural entre Angola e a França, olhando particularmente para as regiões das Antilhas Francesas.
No ano seguinte (2013), fomos brindados com um evento enquadrado no “projecto IMOSHI”, de Tony NGUXI, que levou Jacob DESVARIEUX por duas ocasiões ao Moxico, e Jean-Philippe MARTHELY visitou uma vez a província. Tony NGUXI é um dos proeminentes cultores do canto em línguas nacionais, da música folclórica-moderna angolana.
Um dos seus pontos fortes é o domínio da escrita, da composição e da interpretação do tchokwe (chôkwe) na sua dimensão mais profunda. Tony NGUXI eleva o canto do tchokwe ao encontro dos encantos do Zouk, do SeZou (Semba e Zouk), do Afrozouk, do Afro-jazz, da música Kizomba, e do género Tchiyanda, na sua qualidade de expressão cultural do povo tchokwe, que se manifesta pela dança, canto, batuque, chocalho, espelhando celebrações da existência de um povo nobre…
A HOMENAGEM NO MOXICO
No quadro do IMOSHI – Angola, de Tony NGUXI, Jacob DESVARIEUX chegou a ser homenageado no Moxico, em Maio de 2013, pela Administração Municipal de Kamanongue, que concluíu ali no Largo da Cultura a colocação de uma pedra, presa ao chão por uma espessa camada de cimento, cravada com o nome do cantor e guitarrista do KASSAV, que ficou conhecida com o nome “pedra Jacob DESVARIEUX”. Sob direcção de Tony NGUXI, o cantor afro-antilhano chegou a dançar o “Tchiyanda”, profundamente envolvido, ao lado de bailarinas calejadas, ao mesmo tempo que confirmava naquele exacto momento que a música/dança/ritmo “Tchiyanda” é uma base forte para vários estilos musicais possíveis, dada a sua métrica (segmentadas), que permite uma incursão para outros géneros como o Zouk, Rock, Jazz, Semba, Samba… e até mesmo a orquestração sinfónica.
KUNEGILE (“Origem”, em português)
É uma canção original de Tony NGUXI, que o cantor angolano sabiamente interpreta em “duo-live” com Jean-Philippe MARTHELY, no Luena (Junho de 2013), e a participação, em palco, de Jacob DESVARIEUX, JAMOL, Wiza KWENDA (in memoriam) e JAMEL. Kunegile traduz o percurso do cantor em comparação ao curso de um rio, que nasce pequeno e cresce grande, para o oceano, bebendo de outras correntes. O rio que dá, no essencial, a transformação para o infinito. O rio (luiji) transforma-se em oceano (kalunga)… “kuku negile… luiji…tala kumunguya…. kalunga…”
TONY NGUXI E O NASCIMENTO DE HASHI
HASHI (“Terra”, em português) é o título de uma das recentes canções de Tony NGUXI, interpretada pelo mesmo, numa homenagem que o cantor faz a sua filha, baptizada com o nome HASHI. Neste quesito, defrontamo-nos com um caso insólito no seio da família do cantor: a menina nasceu na mesma cidade, no mesmo mês, no mesmo dia, na mesma hora e até na mesma maternidade que o pai, com a diferença (apenas) da idade de ambos, por razões óbvias. Tony NGUXI nasceu em 1967, e HASHI, em 2012, na cidade do Luena, Província do Moxico.
Em alusão ao Dia de África, tributo-merecido ao cantor e compositor angolano Tony NGUXI, defensor da revalorização das línguas nacionais para a transmissão dos valores dos povos de África.
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Luís Paulo, é jornalista, jurista, ensaísta e investigador. Trabalhou no Jornal de Angola como redactor e repórter. Escreveu o livro “Transportes, um Sector da linha da frente, Evolução histórica e novas dinâmicas”. Fundou a Casa do Zouk. Escreveu o livro “GIGANTES do Zouk” (1979 – 2019). Co-fundou o programa Zouk Non Stop, na Rádio Mais. Foi director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério dos Transportes. É actualmente director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente.