O músico precisava apoios financeiros para tratar um cancro na garganta e consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Zé Du Pau faleceu no dia 29 de Dezembro e foi a enterrar nesta terça-feira, 2, no cemitério da Santa Ana, em Luanda
Fernando Guelengue
A revelação foi feita nesta segunda-feira, 1, por Elizama Veiga Ferrão, filha de Zé
Du Pau, nome artístico de José Farto Ferrão, na residência do músico, em
Luanda.
Falando em exclusivo ao Marimba, a jovem de apenas 28 anos, conta que a primeira vez que seu pai ficou doente tinha sido levado em estado de coma no hospital Américo Boavia. “Quando o meu pai entrou coma, só falava três palavras: Paulo, Maria e Josefina Ferrão, a minha mãe. Depois ficou internado no Hospital Geral de Luanda onde acabou por falecer no dia 29 de Dezembro. Faltou muita coisa mesmo porque vi que não haviam apoios”, disse, reconhecendo que quando se deslocou a primeira vez a Portugal beneficiou de apoio do Ministério da Cultura.
Elizama Ferrão fez saber também que em 2017, altura em que o estado de saúde do seu pai teria se agravado, Zé Du Pau solicitou um apoio de visto e suporte para o tratamento em Portugal, mas a embaixada daquele país declinou alegando falta de meios.
“O meu pai foi-lhe negado o apoio de visto e cuidados para ser tratado. A embaixada negou com a justificação de que já não haviam condições financeiras para tal. O governo angolano já não fazia nada por ele”, revelou a filha do autor de sucessos, acrescentando que depois da morte apareceram membros do Ministério da Cultura que apoiaram para a realização de um funeral mais ou menos justo.
A mesma alerta nos seguintes termos: “acho que nos momentos mais difíceis ninguém o apoiou. Temos de nos ajudar uns aos outros e não assistir o próximo a morrer sem fazermos nada. Ele foi um artista de renome em Angola e não merecia”, finalizou.
Por sua vez, Elisabeth do Carmo Carneiro Coelho – ex- esposa do músico, depois
da separação com a mãe Josefina Ferrão, conta que conheceu o músico em
1986, o ano em que a mãe dela faleceu. “Tudo ocorreu na estrada de Viana
quando ele passava e acabou por me dar uma boleia que originou uma relação
amorosa”, revelou a mãe de Patrick, o único filho fora da relação, segundo os
familiares.
Elisabeth conta que a última vez que o viu foi há dois meses, altura em que o músico terá aparecido em sua residência a pedir para voltarmos para cuidar dele porque sentia só. “Ele não recebia apoios de ninguém, nem mesmo para as questões de saúde por isso, ele dedicou-se a beber muito por forma a apagar as suas mágoas”, frisou.
Para Jesus Mateus, responsável da última banda que o músico fez parte, depois de muitos anos em que Zé Du Pau ficou fora dos palcos, o antigo presidente da Endima, Arnaldo Santos, convidou-o para fazer parte da Monumental Show, na qual granjeou respeito e se tornou vocalista principal.
A primeira actuação da banda em público ocorreu em 2006, no cine Karl Max, no aniversário do presidente José Eduardo dos Santos, tendo mais tarde efectuado um concerto no Luanda Sul e na Funda, num dos espaços da empresa Endama. Mas o pojecto também fechou e o músico terá ficado apenas num programa na Rádio Viana.
A banda Monumental Show era composta por Tony do Fumo Júnior, Isabel Brás, Vanda e a Naike, Inâcio, nas tumbas, Zito, na bateria, Amy, viola solo, Denim Có, viola ritmo e Benjami, na viola baixo. Os ensaios decorria de bom tom de segunda a sexta como uma empresa normal.