O jornalista e apresentador da Televisão Pública de Angola, Miguel Manuel, realizou uma iniciativa colaborativa entre o seu projecto de empreendedorismo cultural em parceria com o Goeth Istitute, durante três dias, no Centro Cultural Brasil-Angola.
Foram exibidos três documentários que serviu de temas de debate para a primeira conferência cultural para exaltar a antropologia cultural africana.
O Marimba Selutu procurou aprofundar mais a compreensão do assunto e, nesta entrevista exclusiva, o também pesquisador cultural emite a sua opinião sobre a e realização e produção dos três documentários jornalísticos e a forma como encontrou recursos para esta iniciativa anual.
Fernando Guelengue (Texto)
Fotografias (cedidas)
MS: Quando começou e quanto tempo durou a produção destes trabalhos?
Comecei há três anos, pouco antes do aparecimento da Covid-19. Primeiro, produzmos o documentário N’gudi a Nkma, a rainha dos Bassuku, na província da Lunda-Norte, cuja pré-produção foi feita um ano antes. Dois meses depois, em Dezembro de 2019, fomos gravar o documentário “Os Reis do Leste”, no Moxico. Com todo conteúdo gravado, passamos a fase de mais pesquisas de fontes orais e escritas, para organizar a narrativa e confrontar as fontes, no sentido de buscar o máximo de pluralidade e isenção possíveis. Afinal, trata-se de documentários jornalísticos.
MS: O que motivou a criação deste projecto e qual a organização/pessoa é proprietária do projecto Imiji Ya N’gola?
Sempre enquitava-me o facto de não encontrar documentos suficientes que falassem dos nossos costumes, nossa história, pelo menos aquela não contada pelo colonizador. Sabendo que a maioria de nós vive distante da sua real matriz [cultural], pensei que poderia dar um contributo, ouvindo outras narrativas, contadas por quem vive as tradições e recebeu informações dos seus antepassados sobre a sua trajetória etnográfica.
Durante os anos que viajei pela chamada Angola Profunda, conheci muitas pessoas, sobretudo, autoridades tradicionais e fiz amizades.
MS: Como foi o acesso às fontes para a realização do trabalho?
Foi simples. Durante os anos que viajei pela chamada Angola Profunda, conheci muitas pessoas, sobretudo, autoridades tradicionais e fiz amizades com guardiões, pesquisadores da tradição oral e responsáveis de Cultura e Turismo das 18 províncias, atendendo a minha paixão e curiosidade por esses temas culturais. Quando comecei a projectar o Imiji Ya N’gola foi uma questão de telefonemas para as pessoas que já conhecia e elas encaminharam para as pessoas certas.
A ideia de mantê-los em exibições de auditórios, é uma forma que queremos manter, pelo facto de virem acompanhados de uma mesa redonda, que junta especialistas que debatem os assuntos dos documentários
MS: Os documentários apenas serão exibidos em salas de cinema ou também serão disponibilizados em algumas plataformas de internet?
Por serem documentários de produção independente, não existe um compromisso com um canal de TV, por exemplo, para o divulgar. Caso venha haver esse interesse, poderemos partilhar com o público de TV. Igualmente, não é o tempo para disponibilizá-los nas plataformas da internet. Por outro lado, a ideia de mantê-los em exibições de auditórios, é uma forma que queremos manter, pelo facto de virem acompanhados de uma mesa redonda, que junta especialistas que debatem os assuntos dos documentários. Esse formato aproxima as pessoas e dá a oportunidade de aprofundar pormenores que a narrativa audiovisual não apresenta.
MS: Qual o investimento total para a realização destes três documentários?
Por questões contratuais, com o nosso parceiro, não avançamos números. Só podemos dizer que, foi uma mecânica, para trabalhar com baixo orçamento disponível mas, muito útil e generoso. A maior motivação dos dois lados foi a vontade de fazer.
A única garantia é que temos como foco único a antropologia africana.
MS: Em 2023, haverá mais documentários e quais são as histórias que serão beneficiadas?
O projecto Imiji Ya N’gola é de periodicidade anual. Temos de produzir documentários para apresentá-los todas as semanas do 25 de Maio, Dia de África. Já temos em pauta outras histórias que, preferimos manter connosco [em segredo] por agora. A única garantia é que temos como foco único a antropologia africana.
PERFIL
Com mais de 19 anos de carreira como jornalista, Miguel Manuel é apresentador da Televisão Pública de Angola, radialista na LAC e na Rádio Escola que desenvolve trabalhos de pesquisa e produção audiovisual de forma independente.
Actua como formador de Oratória, Técnicas de Jornalismo, Apresentação e Reportagens para TV, sendo igualmente director do Centro Institucional da Alpha e Omega – ECOSOC-Angola, parceira das N- Unidas (Plataforma dos ODS).
Para além de ser finalista em quatro prémios de comunicação social, venceu a categoria de Melhor Apresentador de TV, do Prémio Máscaras de Ouro.