A propósito do futuro museu de cinema em Luanda – Miguel Hurst

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Antes de responder à questão sobre a necessidade de um MUSEU DO CINEMA em Angola, gostaria de reflectir sobre alguns pontos que me parecem intrínsecos a esta questão…

O que é um museu e qual sua função?

O museu, uma instituição permanente sem fins lucrativos, deve estar ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. Deve ser aberto ao público e deve adquirir, conservar, investigar, comunicar e expôr o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite.

Os museus apresentam-se em diferentes tipologias, com diferentes conteúdos, especificidades e significados. Assim temos: Museus nacionais, museus de arte e história, museus de ciência e tecnologia, museus temáticos, galerias e novas tendências. Eles asseguram a preservação e conservação da herança cultural e natural de uma comunidade, servem de foco cultural e de centro de pesquisa, provendo oportunidades de envolvimento da comunidade no seu funcionamento. Os museus são importantes instrumentos de preservação da memória cultural de um povo, e responsáveis por seu patrimônio material ou imaterial. Guardam a memória e contam histórias. Conservam em suas coleções objetos fundamentais para a memória da comunidade na qual vivemos. Nos processos pedagógicos, eles exercem um papel fundamental, pois possibilitam aos interessados, em especial às crianças, a pesquisa a partir da história e da conservação de objetos, documentos e obras, bem como, em casos específicos, a interatividade.

Tendo em conta o anteriormente descrito, pergunto-me se ao edificarmos um MUSEU DO CINEMA em Angola, estaremos preparados par cumprir com as funções, com o objecto com a importância que um museu requer? Teremos previstos os investimentos, não só o de edificação mas os de manutenção e funcionamento, necessários para manter o mesmo actual durante os tempos? Estamos preparados e temos uma equipa capaz de dar um futuro risonho ao mesmo? Ou estaremos a construir mais um “Elefante Branco” para se juntar aos imensos espalhados pela cidade capital e pelo país?

 

A Internet abriu a possibilidade de existirem os museus virtuais, cuja principal, senão única, forma de interação com o público é o ambiente virtual da Internet. Mas a ampla maioria das instituições possui acervos físicos a serem preservados, pesquisados e apresentados para o público. Essa apresentação acontece por intermédio de exposições presenciais, mas também pelas virtuais, ou pela disponibilização de informações sobre o acervo, até mesmo banco de dados, pela Internet, sem esquecer a interação com público pelas redes sociais. Existem ainda iniciativas de virtualização das coleções, em que objectos são escanceados em três dimensões, modelados e disponibilizados ao público. Mas são recursos adicionais para a pesquisa sobre as colecções e que não dispensam o cuidado com os acervos originais.

Os riscos com a falta de recursos e as dificuldades de manutenção dos museus, de seus prédios e a falta de técnicos são a degradação de seus acervos e até mesmo a ocorrência de acidentes evitáveis.

Está o nosso país munido de uma “ Política Nacional de Museus” suficientemente bem elaborada para garantir o funcionamento de um Museu do Cinema? Conta o executivo com a contratação de profissionais para proporcionar um funcionamento moderno, adequado à nossa realidade e inovador a este museu? Ao redor do mundo, há museus que reúnem peças como câmaras de filmar antigas, cenários de filmes inesquecíveis, roupas de personagens queridos, cartazes de filmes exibidos, videotecas, discotecas especializadas, documentos importantes e até exibições de filmes consagrados ou inovadores. Sabem as nossas instituições responsáveis do paradeiro de 90% do nosso acervo filmográfico que não se encontra no país? Inclui a ideia de construção, a aquisição de maquinaria de restauração, conservação e exibição? Estão pensadas exposições temáticas e ciclos de cinema sistemáticos?

Gostaria de acreditar que sim, pois temos profissionais na área da sétima arte, capazes de assegurar o acima questionado.

Caso assim for, e se a intenção estiver revestida por ideais nobres e progressistas, não vejo razão para a não existência de um MUSEU DO CINEMA em Angola. Caso contrário, será de melhor proveito e de resultados mais positivos, o investimento deste financiamento em produções audiovisuais nacionais, que nos últimos anos têm vindo a crescer em quantidade e que, por falta de financiamento, muito deixam a desejar no que diz respeito à qualidade.
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Miguel João de Andrade Hurst nasceu em 6 de Junho de 1967, em Freiburgo, Alemanha, onde viveu até os nove anos. Entre 1977 e 1979, morou na Guiné Bissau e de 1979 até 2003,, em Portugal, de onde veio para Luanda, onde vive. Formado em 1994 na Escola Superior de Teatro e Cinema (Conservatório) em Lisboa, Portugal, o actor concluiu o curso com a melhor média do ano, ingressando assim no elenco do Teatro Nacional D.Maria II-Lisboa (1995).

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