Escritor tanzaniano é o primeiro africano com Nobel da Literatura

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Abdulrazak Gurnah é um escritor tanzaniano que venceu o Prémio Nobel de Literatura 2021. Foto: DR
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A obra literária de Abdulrazak Gurnah é vista como um retrato vivido e preciso de uma outra África, numa região marcada pela escravatura e por diferentes formas de repressão de vários regimes e poderes colonialistas português, indiano, árabe, alemão e britânico.

O escritor Abdulrazak Gurnah, Nobel da Literatura em 2021, é o primeiro autor negro africano a ser reconhecido pela Academia Sueca em mais de 30 anos, depois do nigeriano Wole Soyinka, laureado nos anos 1980.

Abdulrazak Gurnah, que nasceu em 1948 em Zanzibar, na Tanzânia, e vive, desde a adolescência, no Reino Unido, é o 118º laureado na história do Nobel da Literatura, mas há mais de três décadas que nenhum escritor africano negro era reconhecido com aquele prémio Soyinka, em 1986.

Perante um galardão que é “historicamente muito ocidental”, como escreve a agência France Presse, a última vez que a Academia Sueca distinguiu um autor africano com o Nobel da Literatura foi em 2003, o sul-africano J.M.Coetzee.

De toda a história do Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901, mais de 80 por cento foram autores europeus ou norte-americanos, contabilizou a AFP.

Abdulrazak Gurnah, que escreve em inglês embora a sua língua nativa seja o suaíli, publicou sobretudo romance e contos, nomeadamente, “Paradise” (1994) e “Afterlives” (2020), e “tem sido amplamente reconhecido como um dos mais proeminentes escritores do pós-colonialismo”. Em Portugal, tem apenas um livro editado, “Junto ao Mar”, pela Difel, em 2003.

No entender do comité sueco, a obra literária de Abdulrazak Gurnah é um “retrato vivido e preciso de uma outra África, numa região marcada pela escravatura e por diferentes formas de repressão de vários regimes e poderes colonialistas: português, indiano, árabe, alemão e britânico”. Abdulrazak Gurnah apelou à Europa que mude a  visão sobre os refugiados de África e a crise migratória.

“Muitas destas pessoas que vêm, vêm por necessidade, e também, francamente, porque têm algo para dar. Não vêm de mãos vazias”, disse o escritor, em entrevista à Fundação Nobel, sublinhando que são “pessoas talentosas e enérgicas”.

Se a Academia o coloca na tradição literária em língua inglesa sob o patrocínio de Shakespeare e V.S. Naipaul, “deve ser sublinhado que ele rompe conscientemente com a convenção, derrubando a perspectiva colonial para enfatizar a das populações locais”, de acordo com o júri do Nobel.

O seu trabalho afasta-se das “descrições estereotipadas e abre os olhos para uma África Oriental culturalmente diversa e pouco conhecida em muitas partes do mundo”, explicou.

Até à sua recente reforma, foi professor de Literatura Inglesa e Pós-Colonial na Universidade de Kent, no Reino Unido, sendo um conhecedor do trabalho do Prémio Nobel nigeriano Wole Soyinka e do de Ngugi wa Thiong’o, do Quénia, apontado como um dos favoritos para o Nobel deste ano.

O Prémio Nobel da Literatura, frequentemente criticado pelo seu eurocentrismo, tem procurado alargar os horizontes geográficos desde 2019, embora o presidente do comité Nobel, Anders Olsson, tenha tido o cuidado de reafirmar, no início da semana, que o “mérito literário” continuava a ser “o critério absoluto e único”. Ao atribuir o prémio a um autor, cuja obra está largamente centrada em questões coloniais e pós-coloniais, e no tema da emigração, o Prémio Nobel está a consagrar temas muito actuais.

O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que deram notáveis contribuições ao campo da literatura, e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.

Em 2020, o Nobel da Literatura foi atribuído à poetisa norte-americana Louise Gluck.

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