É a geração mais viajada de sempre, mais preocupada com o futuro e que mais línguas fala. Mas afinal para onde foi todo este talento? A resposta é relativamente simples: em Portugal não ficaram.
Por: Diogo Vieira da Silva/Observador*
O Talent Shortage Survey 2022 da ManpowerGroup divulgado em Maio deste ano, demonstra uma realidade assustadora. De acordo com este estudo, Portugal é o segundo país do mundo com a maior escassez de talentos, um máximo histórico de 16 anos, onde 85% dos empregadores têm dificuldade em contratar trabalhadores qualificados. Apenas a Tailândia apresenta um resultado pior do que o nosso. O paradoxo desta situação é que a “geração mais qualificada de sempre” não se traduz necessariamente em talento.
E o que nos vem dizendo os números sobre esta geração? Há 25 anos atrás, apenas 45,1% dos jovens entre os 20 e os 24 anos tinham o ensino secundário completo, enquanto que no ensino superior apenas 13,4% dos adultos com idades entre os 25 e os 34 anos tinham completado os estudos. Hoje, o ensino secundário completo entre os jovens passou para 85,3% e no ensino superior a percentagem mais do que triplicou, com uma taxa de conclusão de 41,9% entre adultos.
Se a este facto, acrescentarmos a variável de ser ao mesmo tempo a geração mais viajada de sempre, mais preocupada com o futuro e que mais línguas fala… apenas nos resta colocar a questão: mas afinal para onde foi todo este talento? A resposta, infelizmente, é relativamente simples: em Portugal não ficaram.
O principal fator, mas não único, que justifica isto é relativamente simples, os salários incrivelmente baixos que são propostos no mercado português. Por exemplo, três em cada quatro trabalhadores ganham menos de mil euros, sendo a maioria jovens.
Se isto é em si mesmo um cenário trágico, ele piora quando verificamos que existem outros fatores, principalmente os relacionados com as políticas empresariais e de retenção de talento. Falemos, para já, de dois estudos.
Primeiramente, o estudo desenvolvido pela RH magazine, em conjunto com a Sair da Casca, sobre a diversidade e inclusão nas empresas portuguesas onde se revela que 55% destas não têm uma política de promoção da diversidade e inclusão. O segundo é o estudo “Diversity at Work”, realizado novamente pela ManpowerGroup, que constata que 36% dos profissionais admite que a sua escolha, no que respeita a novas oportunidades de trabalho, passa também pelas políticas LGBTQI+ existentes em cada organização.
Embora cada vez mais empresas portuguesas estejam a adotar políticas de Diversidade, Equidade, Inclusão e Sentimento de Pertença nos seus locais de trabalho, elas não reconhecem o valor da inclusão e o que significa ser inclusivo. Um local de trabalho inclusivo é aquele que permite e encoraja as pessoas a serem quem são, a partilha dos seus talentos e o celebrar das suas características únicas, permitindo que as pessoas se sintam valorizadas e apoiadas não devido às suas diferenças, mas por causa delas.
A inclusão cria um sentimento de pertença, incentiva o à-vontade nas interações (uma vez que as pessoas podem ser elas mesmas) e promove uma cultura de comunicação aberta e transparente. Pode parecer clichê, mas cada um de nós é realmente especial e isso deve ser celebrado. Incentivar a inclusão ajuda a criar um sentimento de autenticidade nos indivíduos e fomenta a atração e retenção de talento.
Portugal não tem falta de talento, Portugal não tem falta de qualificações, Portugal não tem falta de empreendedores. Portugal têm, sim, lideranças que desperdiçam talentos. Porquê? Mas isso deixo para uma outra altura.
Outgoing Curator dos Global Shapers Lisbon Hub, Diogo Vieira da Silva, Licenciado em Comércio Internacional, detém duas pós-graduações; uma em Gestão Hoteleira e outra em Marketing Digital, bem como um MBA Internacional. Desde cedo se envolveu na promoção dos Direitos Humanos das pessoas LGBTI+, tendo ajudado a fundar duas ONG‘s nesta área e assumido a Coordenação Europeia do Projeto Norte-Americano It Gets Better Project durante dois anos consecutivos. Co-fundador da VARIAÇÕES – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, detém o cargo de Diretor Executivo e a Coordenação da Campanha Proudly Portugal. Como analista de negócios apaixonado por Diversidade e Inclusão, atua como Curador para uma conferência internacional a realizar na Fundação Culturgest sobre questões de Diversidades e Inclusão.
*Colunista do Observador