Semal do Arraso: o futeboslista pescado pelo Kuduro

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Semal, nome artístico de António Said Coelho da Silva, é um kudurista na velha escola.
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Apesar de ter nascido no Bairro Popular, o Bairro Valódia, no Marçal, foi o local da sua paixão e afirmação no estilo musical Kuduro. As maratonas e raves dos anos 90 fizeram dele um dos artistas que mais animava as festas da capital

Guilherme da Silva (fotos)

António Said Coelho da Silva, mais conhecido no mundo do kuduro por “Semal do Arraso”, nasceu no dia 28 de Outubro, no Bairro Popular, Luanda.

A sua mãe queria que fosse jogador de futebol, altura em que se encontrava a treinar no clube Desportivo 1º de Agosto, em Luanda. Mas, as raves e as maratonas que o músico Sebem organizava, nos anos 90, determinou a sua inclinação artística definitiva no Kuduro.  

O artista conta que em 1998, os espectáculos que se exibiam apresentavam um formato de animação, o que terá criado e levantado acções despertadoras ao kudurista. “Assim, comecei apreciar e assistir todas as animações de Mestre Katana, um animador que para além de ter sido parceiro do Sebem, também era considerado rival do autor da famosa música ‘Felicidade”, referiu o kudurista, em exclusivo ao Portal Marimba Selutu.

Depois de algum tempo, Semal se torna amigo de Mestre Katana, pedindo-lhe que o ajudasse a tornar-se um animador. A princípio, este animador não o queria ajudar, porquanto evitava encontrar-se com Semal, questionando-se: “Este gajo [Semal] quer ser animador”?!

De tanta persistência de Semal, Katana acabou por conceder uma oportunidade e como forma de começar a trabalhar na imagem do artista, atribuiu-lhe um nome que não era “Semal”. “Era um outro nome, que já não me lembro. Eu rejeitei-o, porque não gostava do nome.”, sublinhou o autor dos sucessos “Sale” e Da Tuga”.

As pessoas presente no local, começaram a gostar da minha actuação, exclamando que eu era um mulato que apareci para proporcionar uma noite agradável

Para começar a dinâmica dos trabalhos artísticos, Mestre Katana teve a oportunidade de colocar o seu artista numa actividade que ocorreu num dos palcos que era espaço de cinemas, em Luanda. Mas naquele momento, o músico Semal ainda não tinha uma música de sua própria autoria para tal espactáculo. “As pessoas presente no local, começaram a gostar da minha actuação, exclamando que eu era um mulato que apareci para proporcionar uma noite agradável”, contou António da Silva, acrescentando que  nesta altura, no Bairro Valódia já residiam produtores e Dj’s como Chico Viegas, Malvado, Viriato Victor, Madabaya e outros. 

No meio destas estrelas da produção, Semal começou a trabalhar com Malvado e Chico Viega, responsáveis pela produção do primeiro sucesso do músico, “Da Tuga”. “Esta música foi gravada no estúdio Ecos da Paz, de Nikila, mas quem a tocou foi o Beto Max, nos anos 2000. A partir daí, tornei-me um músico e surgiram os outros sucessos como o ‘Sale’, ‘Mete Fogo’ e outros”, sustentou.

NOME SEMAL

O nome deste artista foi criado num ambiente de muita tensão e interrogações. O Mestre Katana, que era considerado rival do músico Sebem, decidiu atribuir o nome ao seu novo talento como antónimo de ‘sebem’. “Pensei que o meu nome artístico podia criar-me problemas, pois já havia o nome ‘Sebem’. Então, questionei ao Katana se já existia o ‘Sebem’ porque quer-me dar o nome de ‘Semal’?!”, interrogou, afirmando que Katana insistia, dizendo-lhe: “Tem de ficar mesmo “Semal!”.

Depois da produção e lançamento da música “Da Tuga”, produzida por Malvado e Chico Viegas, o artista começou a ser reconhecido no mercado musical, acabando por aceitar o seu nome artístico.

MÚSICA “SALE”

O artista contou que esta música surgiu por causa de algumas ideias das músicas dos mais velhos. Embora, não mencione o nome do mais velho, apenas salienta que é um “kota” muito famoso e actualmente reside no estrangeiro. Por outro lado, António da Silva, por conselho de artistas consagrados, começou a ler e a ouvir músicas em kimbundu, apesar de não saber falar a mesma língua africana.

Em 2001, o músico compõe a letra, com ajuda dos produtores Chico Viega e Dj Ângelo, que se viria a tornar sucesso e que, até a data actual, está na mente do público. “Actualmente, tenho trabalhado com a música e inclusive a Banda Maravilha também tem cantado a minha música nos seus shows.”, declarou o artista, reforçando que também tem recebido um feedback positivo de outros grupos e artistas. 

Naquela época, este género foi a nossa abertura e não tem como esquecer o que já fizemos, que foi uma coisa muito séria!

Acerca do estilo kuduro feito pela sua geração, o artista considera ser algo que ficou marcado na história da música angolana, pelo facto de ter sido um momento especial em que o estilo estava em expansão e as pessoas identificavam-se com o mesmo. “Naquela época, este género foi a nossa abertura e não tem como esquecer o que já fizemos, que foi uma coisa muito séria!”, realçou.

DIFERENÇA NO KUDURO

Semal pensa que actualmente, os kuduristas da nova escola estão a fazer música diferente das da sua época e acredita que aqueles que vieram depois da sua geração, alguns têm estado a produzir más músicas e outros criam sucessos do momento, mas não escrevem.
“Fazem sucesso e depois de 1 mês, os músicos desaparecem do mercado. Às vezes, querem sempre permanecer, fazendo, todos os dias, músicas, mas há muita diferença. O kuduro do meu tempo, são música que até hoje ficaram [na mente das pessoas].”, justificou, observando que hoje em dia, para os kuduristas terem sucesso, têm de gravar quatro, cinco ou mais músicas.

Quanto ao conteúdo das músicas, Semal julga que alguns músicos estão a compôr boas letras e outros estão a misturar animação com outras coisas. “Há uns que cantam bem; outros vão buscar algumas coisas e seguem só animação. E há ainda os que vão fazendo as letras.” explicou, diferenciando que animador é o que faz música que se consome rápido; enquanto kudurista é aquele que escreve e as suas músicas têm um consumo mais duradouro.

ESTADO DO KUDURO

Analisando o estado deste género, Semal do Arraso interpreta que houve épocas muito boas e também más e que o Kuduro voltou a estar aberto ao mercado internacional. “Há grupo com nome [renomado] a fazerem sucesso no estrangeiro e conheço muitos. O Kuduro já consegue ter mais abertura.”, elucidou, argumentando que havia época em que o género teve problema e já não se fazia sentir, inclusive, haviam músicos que não queriam trabalhar com kuduristas.

Naquela época, António da Silva relembra que faziam as músicas sem o auxílio de computador, ou seja, utilizavam mais os teclados. “Hoje em dia, tudo é electrónico ou computarizado e a tecnologia está muito avançada.”, enfatizou, afirmando que na época do teclado, sempre que a música não saísse bem, tinham de regravar por muitas vezes, realidade que já não acontece actualmente: “basta pôr a tua voz [no instrumental]  e produtor vai trabalhando ela”!

Questionado se já sofreu algum tipo de discriminado por ser kudurista, o autor do “Sale”, respondeu  que sim, mas no princípio da sua carreira. “Quando as pessoas começaram acreditar o que estávamos a fazer era sério, então começaram a mudar de opinião”, rematou.

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