O rapper explica as razões de não poder lançar um álbum durante 13 anos, assim como o que irá fazer quando deixar a vida musical profissionalmente. Fala igualmente sobre os custos de produção de um disco físico em Portugal, comparando-o com Angola e Moçambique.
O músico português, Keidje Torres Lima, “Valete”, fez estas revelações em entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Neto, em Portugal. A entrevista rápida, que se encontra nas redes sociais do jornalista, contou com a participação do músico angolano Totó e do rapper moçambicano Duas Caras.
Em declaração ao jornalista, quando questionado sobre o motivo de não lançar um álbum durante 13 anos, o rapper de origem santomense, referiu que a resposta era longa, mas iria tentar resumi-la.
Segundo o artista, a sua acção poderá culminar em apenas mais dois trabalhos discográficos para deixar profissionalmente a carreira musical. “Quero sejam obras especiais! Eu senti que na altura, não tinha preparação para fazer as obras que queria, ou seja, não tinha esta preparação tanto intelectualmente, como musicalmente.”, revelou Valete, citando como exemplo uma expressão sua em que diz que os rapprers são também letristas e não apenas músicos e que, às vezes, encontram-se a gravar num estúdio e deparam-se com uma situação em que têm de fazer uma obra musical, mas fazem-na sem conhecimento musical. Por isso, sustenta, teve de estudar música e produção para se sentir preparado para fazer uma obra.
O autor do sucesso “Rap Consciente” adianta ainda que tem estado em estúdio, praticamente todos os dias e que neste momento, encontra-se num bom processo, que é produzir dois álbuns ao mesmo tempo. “Estou a fazer um álbum, que será físico. E supostamente, será o meu terceiro álbum oficial. Estou a fazer uma coisa que eu chamo ‘um álbum em movimento’.”, fez saber, esclarecendo que todas as músicas do disco que tiverem um carácter de urgência ao longo da gravação, vai lançá-los imediatamente ao mercado e de seguida, irá agrupá-la num álbum, cujo formato será digital.
Por outro lado, quando deixar a vida profissional da música, o artista declara que está a fazer uma coisa a algum tempo, que é ser letrista para os outros cantores de géneros musicais diferente como o fado. “Tem-me dado um prazer imenso de fazer! Quero muito abrir uma editora em Portugal; ser maneger, presidente da minha fraguesia (autarca) e também começar a escrever argumentos para filmes, porque em Portugal está a começara a nascer uma pequena indústria de cinema”, revelou.
INDÚSTRIA MUSICAL
Relativamente à indústria, Valete alerta que em Portugal, “há um processo que os africanos devem observar”, porque “também vai acontecer em África”. “Hoje, em Portugal, os artistas que estão com mais sucessos, são os independentes, aqueles que não têm ligação a nenhuma editora.”, advertiu, argumentando que quando se fala de rap, um artista pode ter o seu miniestúdio em casa, onde pode comunicar directamente com os seus fãs, através do Instagram, Facebook e Twitter. Ou, pode colocar às suas músicas em plataformas de distribuições digitais como Spotify e youtube.
“Se calhar, mais da metade do dinheiro que os artistas estão a ganhar com os discos, vem das plataformas digitais. E os discos estão em desusos, aqui [em Portugal]. Isto vai acontecer inevitavelmente em Moçambique e em Angola.”, elucidou o rapper, sublinhando que quando a internet de Angola e Moçambique forem mais rápida, este acontecimento será inevitável e que actualmente, as pessoas, em Portugal, estão a preterir o download (transferência de música na internet) a verem as músicas no youtube. Ou seja, o download é uma coisa em desuso.
Comparando o custo de gravação de um disco físico entre Portugal, Angola ou Moçambique, Valete pensa que em Portugal é mais barato, justificando que os músicos portugueses de Hip-Hop estão a simplificar muito as coisas. “Há muito estúdio caseiro e acho que a ideia é não inventar muito. Hoje em dia, com um bom compressor, um bom computador, uma boa placa e um microfone razoável, consegue gravar-se um disco de rap, no máximo, com 2 ou 3 mil euros”, explicou, esclarecendo que a venda dum disco físico em Portugal custa entre 10 a 15 euros, enquanto em Angola, convertendo o Kwanza em euro, custa aproximadamente 4 euros e em Moçambique, convertendo o meticais em euro, 7 euros.