O que escrevi após uma pergunta da Rafaela – Fernando Guelengue

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Fernando Guelengue é o Director do Marimba Selutu. Foto: DR
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O cabelo branco começou a sair na barba e na cabeça. A pergunta de uma das minhas filhas foi: papy, já estás a ficar velho?

Essa pergunta parece inocente, mas levantou totalmente algumas questões sobre a idade, que se já vai, bem como o legado que precisamos deixar aos filhos e ao mundo.

Fui direito à minha tradição diária para ler os principais acontecimentos que marcaram Angola, África e o mundo. E dentre tantas notícias impactantes que sempre podem preocupar qualquer visionário angolano, a que mais deu-me vontade de reflectir e emitir uma opinião foi a que tem muito a ver com o nosso país.

O título é “Presidente da República lança celebrações do Dia da Paz e Reconciliação em África” e inspirou-me a seguir o corpo da notícia para perceber a visão por detrás deste chamativo destaque. E a verdade é que, no quinto parágrafo, o autor destacou uma fala de João Lourenço enquanto Presidente de Angola, mencionando o seguinte: “deixemos definitivamente para trás o passado conturbado de desentendimento, de desarmonia e de discórdia que condicionou e comprometeu a execução de estratégias de desenvolvimento que ajudariam a impulsionar o nosso crescimento económico e colocar-nos a um nível aceitável de competitividade com outras regiões do mundo”.

Essa citação abre margens para uma que habitualmente consideramos pergunta de investigação para escrever artigos, livros, peças teatrais e até mesmo filmes, pois consta nela uma mensagem que pode transformar Angola naquela nação que todos nos almejamos: Se os partidos políticos angolanos estão divididos, como Angola pode superar os seus desafios internos e construir uma nação unida e sustentável?

Como ponto de partido é fundamental mencionar que estamos a poucos meses para celebração dos 50 anos da Indendência Nacional, alcaçada a 11 de Novembro de 1975 e a poucos dias para celebrarmos os 23 anos do alcance da Paz, mas o nosso país ainda tem estado a enfrentar desafios significativos que impendem o seu equlibrado ou pleno desenvolvimento.

No meio de tantos desafios que temos no contexto externo, a minha abordagem centra-se na limpeza da casa, como condição para ser bem aclamado pelos vizinhos ou até mesmo os desconhecidos. Falo inicialmente da dependência do petróleo, da desigualdade social e da doentia e crónica fragmentação política que começou com três grandes nomes e movimentos da “eterna” política angolana – Holden Roberto (FNLA), Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA), considerados por muitos pesquisadores como fundadores na nação. Esses males fragilizam o grande potencial que todos esses fundadores viram e falaram que Angola teria no continente.

Olhando para essa visão apresentada pelo Presidente João Lourenço, penso que independentemente das divisões políticas, ainda vamos a tempo de transformar o nosso país numa efectiva potência africana, pelo que apenas será possível caso o foco de qualquer líder que assumir os destinos do país seja nas pessoas – esse capital humano que tem estado a fugir para o exterior devido aqueles factores conhecidos. 

O nosso entendimento continua a ser de que a construção de uma nação próspera e sustentável depende do investimento na educação, saúde, infraestrutura e empreendedorismo, além de um compromisso com a unidade política e social, à semalhança do que ocorria nos diferentes Reinos Africanos e actualmente nos Estados Unidos da América: quem assume o poder, pensa acima de tudo no Projecto da Nação Americana.

Para superarmos os males que temos enfrentado ao longos destes anos, temos de apostar no abandono da dependência excessiva do potróleo para sairmos da vulnerabilidade económica, pois todas as vezes que se regista a quedra do preço do petróleo no mercado internacional, internamente vivemos um aperto considerável na vida do cidadão. Razão pela qual, o chamado da diversificação económica “cantada” há anos pelas lideranças do país ainda se posciona como fundamentais para o crescimento local e a criação de empregos nos sectores da agricultura, turismo, tecnologia e, especialmente, nas micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).

Tem de ficar claro para qualquer político e partido que almeja o poder que o maior recurso de Angola não são os seus minerais como petróleos, diamantes e outros, mas o seu cidadão. O angolano – inteligente, resiliente e criativo – deve ser o centro de todas as atenções internas e externas das políticas públicas.

A aposta na educação, no desenvolvimento pessoal e profissional, e na promoção do empreendedorismo precisam ser mais do que prioridade, pois essa acção deve ser através do investimento nos programas de capacitação e numa educação de qualidade inquestionável para todos os níveis, desde a base até a universidade, sendo consideráveis contributos para criarmos uma geração que terá coragem, força e estratégias para enfrentar os desafios do século XXI e inovar nos sectores mais diversos da economia.

Para conseguirmos ser uma nação forte, competitiva e termos uma economia que atinja o pico do desenvolvimento sustentável, temos de olhar com acções concretas aos sectores da saúde e educação, pois uma população saudável e bem-educada, alavanca o país. Quantas pessoas que dariam grandes contributos ao país acabaram por morrer por falta de uma humanizada assistência médica e medicamentosa? Quantas pessoas receberam capacitação adequada e se tornaram profissionais altamente qualificadas? Quantas pessoas perdemos de paludismo causada por falta de condições básicas de saneamento nas comunidades?

São tantas e infindáveis questões que faria para despertar a visão dos meus leitores sobre a importância de uma urbanização planeada e a melhoria do saneamento básico como aspectos vitais para garantirmos uma boa qualidade de vida aos angolanos, não esquecendo de olharmos igualmente que a infraestrutura urbana deve ser modernizada, com ênfase no transporte público e acesso à água potável, para que as cidades possam crescer de forma sustentável e inclusiva.

Outro aspecto não menos importante é o fomento necessário ao empreendedorismo e às MPMEs, as micro, pequenas e médias empresas, como a espinha dorsal de qualquer economia que se quer desenvolvida. Um exemplo que vai dar sentido a essa tese é o facto do homem mais rico da Europa, Bernard Arnault, presidente do maior grupo de luxo mundial LVMH, ter ameaçado se mudar para os ‘EUA de Trump’ após ‘aperto’ de imposto na França. Trump convida-o para investir em fábricas com menos de 15% nos impostos, enquanto o governo Macron, aumentou mais 15% nos impostos.  

Em Angola, as MPMEs podem desempenhar um papel crucial na diversificação da economia, na geração de empregos e no fortalecimento do mercado interno, tendo o  governo a missão especial de criar um ambiente favorável ao empreendedorismo, proporcionando incentivos fiscais, acesso a crédito e redução da crónica burocracia que se regista. Os esforços para a digitalização da governação são louváveis, mas a inovação também deve ser estimulada, com políticas que incentivem o uso de novas tecnologias nos sectores como a agricultura, manufatura e serviços.

A justiça social é outro pilar fundamental para o desenvolvimento de Angola, pois a redução das desigualdades e a promoção da inclusão social são essenciais para garantir que os benefícios do crescimento económico cheguem a todos os cidadãos, especialmente os mais vulneráveis. Isto quer dizer que as políticas públicas devem focar na redução da pobreza, na melhoria da distribuição de renda e no acesso universal a serviços essenciais como saúde, educação e habitação.

O último aspecto que dá título ao meu artigo é a resposta a pergunta de investigação acima mencionada. Para tal, entendemos que para superarmos a fragmentação política e construirmos os melhores e mais sólidos caminhos para a unidade de todos os angolanos, que tem sido um dos maiores desafios para o país, é a eliminação da disputa constante entre partidos políticos que não pensam Nação. Não compreendem a importância de se construir um único e coeso projecto político de nação, para facilitar a implementação de todas as vontades e políticas públicas que se entenderem eficazes para facilitar na criação de uma agenda nacional unificada.

Para que o país avance, é necessário que os líderes políticos – partidários ou não – se unam em torno de um projecto comum de desenvolvimento e que o diálogo e o consenso prevaleçam, permitindo a construção de um ambiente político mais colaborativo, em que as diferenças sejam respeitadas, mas a unidade seja prioritária, para superarmos a actual crise de confiança generalizada em Angola que abre consideráveis desvantagens em caso de qualquer conflito que possamos ter com outro país.

Gratidão com Resiliência&Fé!
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Fernando Guelengue
– Consultor Empresarial, Empreendedor, Palestrante, Jornalista, antigo editor do Semanário Agora, CEO e Fundador do Portal de Notícias Culturais Marimba Selutu, colaborador do Portal de Notícias Por dentro da África, Escritor, Formado em Psicologia e Membro-Fundador da Associação Científica de Angola.

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