Não se esqueçam do Domingos Júnior – Ramiro Aleixo

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Faz mais de 40 anos que nos conhecemos. Eu pelo Jornal de Angola, ele pela TPA, onde o foram buscar e integraram nas FAPLA e mais tarde nas FAA.

Comemos o pau que o diabo amassou por esta Angola fora. Comeram-nos a carne e deixaram os ossos. Calcorreamos quase todas as trincheiras dos bordos dianteiros de combate contra os sul-africanos em Ondjiva, na Cahama e em Xangongo.

Para trás, deixamos mortos e vivos que horas depois, tomamos conhecimento de que também tinham morrido.

Como o Beto, meu amigo de infância, cuja mãe não sabia do seu paradeiro, ou como o jovem ‘comandante Kibeto’ (porrada) assassinado por um franco-atirador sul-africano, quando manhã cedo, transpôs a porta da casa onde estava instalado, a vestir a farda, ao tomar conhecimento que os ‘carcamanos’ já tinham cercado a vila.

E por lá permaneceram. Num golpe de sorte, saímos na tarde do dia anterior em direcção ao Lubango. E foi nessa frente de combate intenso onde uma ave de rapina parecia um Mirrage, que pela primeira vez, vimos o Comandante Farrusco e o seu BMW laranja.

Foi, certamente, o nosso baptismo de fogo, a que se seguiram outras jornadas em várias outras frentes de combate, nesse longo percurso de 50 anos de independência, quando com entrega revolucionária defendíamos uma causa, a da integridade da Pátria amada e do Povo, que pensávamos ser justa.

Saudades dessa utopia que nos enchia de orgulho, de que não nos arrependemos, apesar de, para uns tantos que não mexeram sequer uma palha, mas aboletaram-se do conforto, nos considerarem traidores. Só se for mesmo deste projecto que nos enche de indignação.

O Domingos Júnior ‘provou e gostou, gostou e colou’ e daí para frente, esteve na cobertura de quase todos os eventos militares, ou relacionados com a defesa e segurança. Não acredito que exista em Angola, pelo menos deste lado, quem mais retratou a guerra que o Domingos Júnior.

Um pouco esquecido agora, vai sobrevivendo na reforma, para onde foi com uma mão atrás e outra na frente.

Espero que não se esqueçam deste insigne profissional. Por direito próprio, ele merece das mais elevadas condecorações.

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Ramiro Aleixo é renomado jornalista que muito se destaca na linha da frente da liberdade de imprensa e democracia em Angola.

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