Mucano é um homem de cultura que dispensa apresentações devido a sua ascensão profissional depois de colocar dois rostos da beleza angolana nos mais altos níveis da beleza mundial.
Numa conversa com o Portal Marimba Selutu, no âmbito da primeira edição do Festival Zouk2018, o promotor de eventos falou deste festival, dos seus trabalhos em prol da Cultura nacional que tem estado a divulgar no exterior, os concursos nacionais de Kizomba e Semba.
Apesar de viver há 28 anos em Portugal, o empreendedor cultural tem enfrentado uma luta para o reconhecimento do estilo e dança Kizomba como Património Nacional, por entender que o mundo dança e canta este género angolano.
Fernando Guelengue
Na qualidade de organizador de eventos, o que tem a dizer em relação a primeira edição do Festival Zouk2018?
Este evento traz uma nova visão para Angola, porque nós estamos a misturar, num só palco, vários nomes da música zouk. Ao mesmo tempo, trazendo a nossa verdadeira essência da Kizomba, num casamento perfeito destes dois estilos. Sabemos que a Kizomba sempre foi um tema muito discutido porque se entende que ela nasceu do Zouk, mas há quem diga que não. Realmente fica aqui a prova se são gémeas ou não.
Qual é sua opinião em relação a esse tema, são realmente gémeos ou não?
Em minha opinião, dizia que são estilos gémeos falsos, porque Kizomba é uma realidade totalmente nossa, tem uma musicalidade muito própria. E depois temos o Zouk que acabamos de ver e ouvir nas actuações, ficando aqui a prova para quem ainda tinha dúvida sobre o mesmo, a Kizomba e o Zouk são completamente diferentes.
Em relação os seus projectos, o que tem para avançar agora?
Estou agora com um projecto que é “Miss Mundo Angola”, que é uma marca mundial gerida actualmente por mim. É um dos maiores concursos do mundo feito em 130 países e Angola é um dos países que organiza esse evento.
Quando estamos a falar de beleza, automaticamente estamos a falar de Cultura
Que desafios tem em relação a isso?
O grande desafio é fazer valer o nome de Angola, para que se possa ouvir ainda mais alto, como já foi no passado. Nós temos um histórico muito bom na nossa Cultura, porque quando estamos a falar de beleza, automaticamente estamos a falar de Cultura. Então, Angola já esteve num nível muito alto devido às classificações que tem tido.
Está a se referir da classificação de Leila Lopes?
Sim! Sendo um produto nosso. Porque, a Leila Lopes ganha um concurso no Reino Unido, trago ela para Angola, onde ganha também um concurso Miss Angola, que lhe deu a chance de participar e vencer o Miss Universo. Fiz a mesma coisa com a Micaela Reis, que ganha o Miss Angola/Portugal que realizo e vem para Angola e ganha. O passo seguinte que lhe deu a classificação de primeira dama do concurso universal. Por isso, afirmei que o nome de Angola já estava em alto nível. Agora, sou o representante oficial de uma marca de beleza e cultura, pelo que quero ver se continuo com esses feitos.
Sobre os seus ombros estão um peso pesado, se assim posso dizer?
Sim, muito pesado mesmo. Porque, é uma grande responsabilidade falar desse género de concursos, pois, a partir do momento que levamos a bandeira da Angola além-fronteira, estamos perante uma enorme responsabilidade. Não só minha, mas de todos nós, afinal de contas, é um evento que fala de Angola e não de mim.
Qual é a dificuldade que teve para ter essa marca como sua, sendo que existe um Estado por trás?
Nós temos apoios institucionais, é uma marca que, uma das condições para se conseguir o produtor ou o gestor da mesma, tem de ter algumas instituições do Estado como parceiros. Nesse caso, duas instituições que eles obrigam que são: o Ministério do Turismo e o da Cultura. Porque o projecto Miss Mundo passa por essas instituições mundialmente. Fala-se do turismo e ao mesmo tempo falamos de Cultura. Então, um dos requisitos e pontos chaves, é ter esses dois parceiros e depois ser uma pessoa muito credível no seu País, com feitos muito visíveis, porque eles solicitam recortes de jornais e entrevistas na internet. Eles também investigam a página do Facebook, para saber quem tu és no seu País. Então, são os pontos muitíssimo altos para atingir a marca e felizmente conseguir reunir toda essas condições.
Não anúncio músicos, porque estou a falar dum concurso de beleza, mas ao mesmo tempo tenho intervalos que é preciso música ou dança
Em relação ao seu projecto, o nosso portal é especializado em música, qual é a relação que existe entre os concursos de beleza e música?
A música está presente em quase em todos os eventos, não só precisamente em eventos virados para a música. Mas para qualquer tipo de evento, porque a música é alma, é vida, então eu acho que, a ela consegue estar presente, mesmo não sendo cartaz principal, como é no concurso de miss que eu organizo. Não anúncio músicos, porque estou a falar dum concurso de beleza, mas ao mesmo tempo tenho intervalos que é preciso música ou dança.
Quais são os artistas e estilos preferenciais para um concurso de beleza?
Eu acho que qualquer artista serve, o que percebo é que depende muito do produtor do evento. Nesse caso, os eventos de miss são actividades que têm vários temas. Começam desde o tradicional, vai desde o biquíni que é universal, os trajes de noite que já é gala, então se o produtor tiver que acompanhar este ritmo, tem que ver os músicos mais tradicionais, mais típicos para a primeira parte. E ver os músicos mais tropical, estamos a falar de estilos Afro-beat, que em Angola já se toca muito na voz de C4 Pedro, Ary e a N’soki.
Então, já se pode explorar os nossos artistas locais para essas grandes actividades?
Já pode se casar com a parte do biquíni, porque é trópico. Depois vamos para o glamour, vestido de noite, aí já podemos fugir um bucado para os cantores mais românticos de Angola. Neste aspecto, estamos a falar de Anselmo Ralph podemos ir numa Pérola, ou então viajar um bucado no universo, podemos ir numa Mary Carey, Rihanna, Jorge Michel.
É impossível ter Kuduro, kilapanga e música tradicional num concurso de miss?
É possível sim! Porque casando bem essas nossas músicas tradicionais, logo numa primeira parte ou mesmo no fim, para mostrar um pouquinho quem somos e agora dentro da vertente artística do concurso de miss, a tendência ou os números que ela se comporta, convém seguir antes dum biquíni, porque o biquíni é trópico, então um artista caliente seria fantástico.
Com é que está a parceira entre os vossos projectos com a comunicação social?
Bem, a comunicação social está em toda parte, mesmo não sendo convidada directamente, mas é um órgão que está presente indirectamente, porque acompanha o que vai acontecendo de forma directa ou indirecta. Há órgãos que são parceiros, por exemplo, na minha forma de trabalho, eu tenho órgãos parceiros. Quando são parceiros, eles acompanham dia e noite, quer dizer, todos os segundos do projectos e tudo que implementamos e fazemos no dia seguinte é notícia. E agora, o órgão de comunicação social na sua componente de comunicar, tenta procurar o que está a acontecer. O que aconteceu neste grandioso festival zouk, mesmo não sendo um órgão convidado, mas ser um órgão credível, irá fazer menção deste acontecimento, porquê? Porque é um grande acontecimento no nosso País. Como é um evento nunca visto, merece notícia mesmo que eles não sejam convidados directamente. Daí o papel da comunicação social casar com os eventos.
Tenho os mesmos parceiros e os mesmo patrocinadores de sempre. Eles acreditaram no evento desde o primeiro ano e acreditaram até hoje
Conseguir recursos para as actividades culturais tem sido um verdadeiro desafio. Como é que consegue realizar as suas actividades?
Eu organizo eventos há 15 anos e tenho duas marcas que já estão bem visíveis no mercado. Tratam-se do Concurso de Dança Internacional Kizomba e Semba, aqui em Angola, que já vou na 12ª edição. E é bom frisar que, tenho os mesmos parceiros e os mesmo patrocinadores de sempre. Eles acreditaram no evento desde o primeiro ano e acreditaram até hoje. E tenho o Concurso Miss Angola/Portugal há 15 anos igualmente com os mesmos patrocinadores desde a criação. E é sinal que também acreditaram no projecto e até hoje continuam a acompanhar, apesar de estarmos nos novos tempos e mais difíceis. Então, as partes, tanto nós como os parceiros, acautelam-se muito como entrar.
Então, está cada vez mais complicado criar e executar projectos culturais?
Já ninguém entra há 3 ou 4 anos, já são mais reservados, há mais dificuldade de conseguir patrocínios porque aquilo que se consegue nem sempre chega a ser o orçamento idealizado pelo produtor ou pelo ensinador, mas um bom produtor, saberá adaptar-se ao que tem, para fazer o mesmo evento sem perder a qualidade é um dos segredos. E um dos segredos é, no meu caso, que o mesmo orçamento que teria para fazer, vamos supor que seja um orçamento de 100 mil dólares e se tiver apenas 50 mil dólares, farei o mesmo evento com a mesma qualidade. Isto, porque eu vou usando alguns segredos. Se no evento de 100 mil dólares eu iria oferecer cem convites, no evento de 50 mil dólares, eu vou oferecer 20 convites. Neste caso, diminuir a oferta e vou aumentar a venda, há sempre uma forma de fazer uma boa gestão das coisas.
Porquê escolheu, Kizomba e o Semba para a sua marca?
É um concurso de dança Kizomba e Semba, que o vencedor leva a marca para além-fronteiras, como uma digressão mundial. A escolha da Kizomba porque quando chego ao nosso país, Angola, encontro vários tipos de concursos em 2009 e ninguém explorava Kizomba e como tinha a necessidade de criar um concurso nacional de dança, muitos me chamavam de louco. Diziam que não podia conseguir implementar uma dança tão genuína, que ninguém precisa ir à escola para aprender. Realmente é o formato que dei para o concurso nacional, conseguindo atrair mais pessoas, fazendo deste manifesto o maior de Angola. Hoje o concurso de dança Kizomba em Angola tem a Televisão Pública de Angola como parceiro principal, que grava e emite a gala para o país e o mundo, há mais de 10 anos. O foco das danças salsa, tango, break dance fez-me perceber a ausência das nossas no padrão de concursos nacionais. Isso fez-me criar o concurso.
As pessoas precisam perceber que Kizomba hoje é um manifesto que em quase metade da Europa dança-se
Como está a Kizomba na Europa?
A Kizomba, na Europa está muito errada porque a informação não chega direito. As pessoas precisam perceber que Kizomba hoje é um manifesto que em quase metade da Europa dança-se. Há aulas deste género musical e dança em vários lugares porque temos visto workshops de Kizomba em quase todos os finais de semana, eventos e festivais de Kizomba que não tem nada a ver com essa natureza, feito em salas de hotéis e espaços abertos. Neste manifesto da Kizomba lá fora, as informações chegam de uma forma muito errada. Porque eles bebem a Kizomba que sai dos vídeos que estão no youtube e nas discotecas, logo, a mensagem quando chega ao público final, chega de forma errada.
Como é feito o formato do concurso, convidam artistas angolanos para lá ou lá já tem artistas que fazem este estilo?
Convido cantores e bailarinos de Angola, por exemplo, o campeão de dança Kizomba nacional, é o cabeça de cartaz. Eu convido todo mundo a participar, eles são seleccionados a partir dum vídeo, que eles enviam para nós, depois fazem um concurso em que o júri é um angolano devidamente conhecedor da dança. Porque o Angola põe a pessoa ideal para distinguir se isso ou aquilo é realmente Kizomba ou não.
Já há formação de Kizomba nas universidades em Angola?
Ainda não há. Porque nós estamos a lutar para que esta Kizomba possa ser um património nacional, porque lá fora a Kizomba é dançado por todo canto. Eu acho que é altura de nós pararmos, e pegar na Kizomba para o Património Imaterial e Nacional.
Neste caso, está a dizer que a Kizomba pode ser roubada?
Sim! Nós se não termos a Kizomba como Património Nacional, ela pode desaparecer como aconteceu com a Capoeira.
PERFIL
Mucano Charles é produtor de evento, encenador angolano que se encontra a viver em Portugal. Tem duas marcas que fazem parte do padrão dos eventos de Angola, que são o Concurso de Dança Kizomba e Samba e Concurso Miss Angola/Portugal.
A sua vida profissional começa nos anos 80, ainda em Angola, devido ao seu senso criativo, que lhe fez sempre acreditar que um dia pode vir a se tornar num produtor de cinema.
Na busca do desejo dos seus pais, o empreendedor cultural teve de se formar em estão de empresas, na Universidade Lusíadas, em Portugal.