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Na vivência dos desafios da pandemia da Covid-19, o Marimba Selutu entendeu manter uma conversa com o escritor angolano que há mais de uma década dedica seu tempo ao estudo da História e das Literaturas de Angola.

Entre vários assuntos ligados aos desafios actuais da Literatura em contexto da pandemia, Tomás Lima Coelho abordou sobre o prazer do folhear do livro físico e do caminho que o livro electrónico está a fazer, mas apontou o melhor modelo que Angola deveria adoptar em relação ao Ministério da Cultura

E disse ter o sonho de um dia ver “que os escritores não tivessem de pagar para publicar as suas obras”, mesmo com a internet cara, papel importado que encarece a edição, ordenados baixos, poucos leitores, falta de livrarias, distribuição inexistente, falta de internacionalização que os angolanos enfrentam

Fernando Guelengue

Qual a sua opinião em relação ao estado actual da literatura
mundial?

Acho que estava bem, pujante, com revelações de novos e bons autores, com reedições importantes e com o surgimento de inúmeros encontros literários por todo o Planeta. Entretanto, a pandemia travou um pouco o processo…

O que mudou no modelo de trabalho na indústria literária
universal?

Em relação à pandemia, se é este o alcance da pergunta, não mudou grande coisa, até ver, porque só passaram poucos meses. Num futuro próximo talvez já se possa avaliar o que mudou, se é que mudou alguma coisa de muito importante na filosofia do negócio dos livros.

Desde que a sociedade se globalizou é quase impossível alguém não saber seja do que for

Já está a viver essas mudanças de adaptação ao que se convencionou
chamar de Sociedade de Informação e do Conhecimento?

Sim, desde que a sociedade se globalizou através da internet. Desde a sua implementação é quase impossível alguém não saber seja do que for.

A pandemia da Covid-19 surgiu e paralisou a Literatura do papel em
muitos países do mundo. Qual a sua opinião em relação ao livro
electrónico?

A pandemia não durará para sempre e penso que o livro electrónico fará o seu caminho a par do livro em papel. Este terá sempre o seu lugar enquanto objecto físico, enquanto obra de arte. O prazer de folhear, de apalpar e cheirar não perderá o seu espaço. O livro electrónico funcionará mais para os trabalhos técnicos e/ou didácticos, vaticino eu.

Angola tem o Kussumba Marketplace, um shopping center online que
permite a venda de produtos digitais. Tem algum livro seu a ser vendido
em Angola?

Não tenho, por enquanto. Mas, para além do livro físico que chegará a Angola o mais breve possível, tudo dependendo da situação pandémica, também está pensada a sua edição electrónica . Vamos ver.

Como encara a realidade dos escritores angolanos nessa fase em que
há problemas de acesso à internet, o custo elevado e os números de casos
confirmados da Covid-19 estão a aumentar?

Acho que enfrentam as dificuldades de sempre e que poucos mudaram mesmo com a pandemia: internet cara, papel importado que encarece a edição, ordenados baixos, poucos leitores, falta de livrarias, distribuição inexistente, falta de internacionalização.

Embora muita gente julgue o contrário, muito poucos escritores vivem da escrita, muito poucos

Por outro lado, a pandemia está a dar uma atenção especial aos
criadores de conteúdos. Acha uma saída lucrativa para os escritores?

Embora muita gente julgue o contrário, muito poucos escritores vivem da escrita, muito poucos. Se houver alguém disposto a pagar por conteúdos de escritores, óptimo, é uma saída. Mas para quantos escritores haverá esse trabalho remunerado?

As crises sempre geram mudanças complexas e maiores oportunidades.
Quer comentar?

Como diria o Martin Luther King, I have a dream, eu tenho um sonho: que os escritores não tivessem de pagar para publicar as suas obras. Isso implicaria que fossem as editoras a apostar no escritor e na sua qualidade literária. É verdade que reduziria drasticamente o número de escritores e “escritores”, reduziria o número crescente de editoras e “editoras”, mas ganharia a Literatura porque só se publicariam os melhores. Mas isto sou eu a sonhar, uma faculdade de que não desisto.

Nos últimos meses, foi feita a fusão do antigo ministério da
Cultura com mais dois antigos ministérios (Turismo e Ambiente). Que
comentário faz a respeito desse superministério?

A minha opinião pessoal é que a Cultura deveria ser um ministério autónomo. Num país como Angola, onde a diversidade cultural é enorme, faria todo o sentido.

E quanto a escolha da jovem ministra para tanta responsabilidade?

Não comento.

PERFIL:

Nascido em Moçâmedes, capital da Província do Namibe (Angola), em 5 de Outubro de 1952, Tomás Lima Coelho é o mais velho de cinco irmãos. Residente em Portugal desde 1975, é casado com a pintora Ilda Coelho, tem dois filhos e uma neta.

Autor do romance histórico “Chão de Kanâmbua (ou O Feitiço de Kangombe)”, pela Chiado Editora, 2010, co-organizador da obra “Malanje. O Tempo e a Memória” (edição de autor, 2013) e Malanje. Suas Gentes (Edição de Autor, 2015), autor da recolha “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, com uma segunda edição a que se juntaram os anos de 2016, 2017 e 2018 (Perfil Criativo, 2016 e 2019).

Tomás Lima Coelho participou em colectâneas e antologias como “Entre o Sono e o Sonho” – Antologia de poesia contemporânea – Tomos II e III (Chiado Editora, 2011 e 2012), “Ocultos Buracos” – Colectânea de contos (Pastelaria Studios Editora, 2012), “Alhos Vedros da Minha Alma” – Antologia de contos (Academia 8 de Janeiro de Alhos Vedros, 2013) e “Taras de Luanda II” – Antologia de crónicas e contos (Chá de Caxinde, 2016).

Tomás Lima Coelho é um escritor angolano residente em Portugal desde 1975e autor de uma aturada pesquisa que reuniu 1.780 nomes de autores nascidos em Angola num único livro, intitulado “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”.

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