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No dia do lançamento do seu segundo livro, intitulado “Testemunho Ocular – Sob o olhar silencioso de uma criança (1967-2017)”, ocorrido no domingo, 11, nas instalações da Akwafrica – Fundação Cultura, o activista e investigador cultural respondeu várias perguntas aos jornalistas e, na ocasião, o Marimba Selutu fez algumas questões que ficarão marcadas para sempre na carreira profissional do também músico com carreira internacional.

Nesta curta entrevista, o leitor acompanhará o pensamento político e cultural de Tony Nguxi e o estado actual da Akwafrica, uma Fundação criada por ele há mais de 50 anos, tendo sido a produtora que lançou os seus trabalhos discográficos no mercado musical nacional e internacional.

MS: Estamos numa fase do pós-eleitoral e a última posição sobre as eleições de 24 de Agosto foi do Tribunal Constitucional. Músicos, escritores e demais artistas têm se posicionado. Que opinião tem em relação a isso?

TN: O livro mostra que desde a independência, o único que tem sido vítima é o povo de Angola.  O povo de Angola não tem problema e posso garantir para vocês que o kimbundu convive bem com o tchokwé, o kikongo convive bem com ovimbundu. Não há problemas, aqui. Os problemas que Angola tem são partidários e deviam ficar nos seus partidos.
O erro que estamos a cometer é de transportamos o que temos nos partidos e pensarmos que são problemas do Estado.

MS: E qual é o problema, afinal?

TN: Não há problemas do Estado, aqui! O povo saiu às ruas e foi votar. A contestação é problema partidário, nós [povo] fizemos a nossa parte e queremos continuar a viver. Esse é o povo angolano e as minhas pesquisas mostra que o povo não deseja que os políticos se desentendem. Nós queremos que eles façam uma gestão boa.

“Recomendo aqui é que o povo de Angola começa a despartidarizar as suas mentes e que os partidos párem de utilizar o povo para benefícios individuais”

MS: O que deseja recomendar, concretamente?

TN: O que recomendo aqui é que o povo de Angola começa a despartidarizar as suas mentes e que os partidos párem de utilizar o povo para benefícios individuais. Não pensam a Nação, mas usam a Nação e o Estado para se valerem na publicidade. Isso tem de acabar porque temos de fazer um Estado a crescer.

 

“Temos de deixar de pensar como partido. O cidadão tem de pensar o Estado, a nação”

E ali, há um problema grande aqui dentro do país. Quando pensa Estado, nação, você tem de priorizar a Cultura. Porque cultura é a vivência dos povos. E quando você prioriza ela, você capacita o cidadão e ajuda a promover a autossuficiência.

Mas o que noto e lamento é que nos países onde ainda se quer fazer esse aproveitamento à Política, ofuscam a Cultura e põe-na em último lugar. É o que está a acontecer aqui em Angola. A Cultura está em último lugar e há dirigentes que chamam como parente pobre, isso é triste! Pois, não há território sem povo. Um povo é uma expressão e a expressão de um povo é a Cultura. É a Cultura que tem de estar em primeiro lugar. É isso que temos de inverter.

MS: Que opinião tem dos bloqueios ou cancelamentos que muitos artistas e instituições estão a ser alvos?

TN: Cada um de nós deve assumir com seriedade o sentimento de responsabilidade social. Tenho estado a dizer que na vida, devemos ter a potência do pensamento. O pensamento é uma potência e quando a gente pensa, é o nosso potencial. E para alcançá-lo, temos de criar veículos que nos façam realizar o que pensamos e é um processo que requer sacrifícios. Aqueles que pensam e depois querem alcançar o seu pensamento, devem aceitar o sacrifício e concretizá-los.

MS: Projectos da Akwafrica?

A Fundação venceu os 50 anos de luta, está sólida e já não é um projecto no papel. É um projecto físico com técnicos qualificados e as pessoas que estão dentro das funções já trabalham por si com projectos para dar continuidade. Está em foco o filme Ngola Kiluanji e este é o essencial.  


“Pensamos que fazer política é ficar nas cores da bandeira de um partido”

MS: Para o próximo mandato, está pronto para a vida política caso for solicitado?

TN: Eu sou político e faço desde que nasci. Só que pensamos que fazer política é ficar nas cores da bandeira de um partido, mas não!

MS: Se for convidado à ministro da Cultura, aceitaria largar os projectos da Akwafrica?

TN: Risos. Tenho de responder essa pergunta!? Penso que um cidadão, tal como fiz quando fui chamado para director provincial da cultura, deve deixar um caderno de recomendações e pedi a liberdade porque acredito que colaboro melhor para o Estado Angolano, estando solto do que dentro de um programa que não liberta acção. Mas, às vezes, precisamos de quem esteja no lugar de ministro para viabilizar as coisas. Como já disse que pensamento é potência, depois é criar veículos para se chagar no pensamento e, se haver sacrifícios, aceitarei.

PERFIL
Com um percurso artístico que atinge vários países do continente africano, António José Augusto, artisticamente conhecido por Tony Nguxi, nasceu no bairro Kapango, no Luena, província do Moxico, em Agosto de 1967.

Para além de investigador cultural, produtor e realizador, é compositor e jornalista com o curso superior de Jornalismo Comercial – Comunicação e Marketing pela Birnam Business College (Joanesburgo – África do Sul), tendo sido eleito delegado da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC) na província do Moxico, em 2013.

O autor de vários prémios como músico, compositor e realizador, exerceu as funções de Director Provincial da Cultura e Chefe do Departamento da Cultura, Artes e Património Histórico do Governo Provincial do Moxico, entre 2017-2019.

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