Quarenta e dois anos depois da Independência de Angola, 15 dos quais de Paz, a cantora, que homenageou em concerto duas nacionalistas que têm a música e a poesia em comum, reforçou a longa caminhada para liberdade.
Pedro Muhongo
Irina Vasconcelos fez estas declarações no último sábado, 31, em exclusivo ao Marimba, durante uma entrevista no final do concerto no Palácio de Ferro, em Luanda.
A “Guerreira do rock”, que ao longo dos 10 anos de carreira produziu e financiou o seu álbum que se encontra disponível nas plataformas digitais, esclarece que o facto de fazer música representa a liberdade. “Acho que a liberdade passa pela pessoas não criarem os seus próprios condicionamentos. Quando falo de liberdade, não que a terceira pessoa tire a nossa liberdade, mas nós próprios é que devemos, com a nossa maturidade, libertar-nos de algumas essências negativas”, explicou a ex-vocalista do grupo Café Negro, acrescentando que com avanço da globalização as pessoas têm de ser cada vez mais disciplinadas e solidárias para melhor gerir o tempo.
Para homenagear, Lourdes Van-Dúnem e Alda Lara, a cantora encontrou dificuldades durante a pesquisa de músicas e poesias. Por isso, defendeu a criação de mais acervos que preservam a Cultura Angolana, particularmente a musical. “Acho que este encontro de geração quebra aqui alguns paradigmas que passam por algumas aprendizagens. Tem se de criar mais acervo que possibilite a procura de música de pessoa que já morreu há 20, 30 ou 40 anos”, aconselhou a compositora, salientando que há vários músicos angolanos que também têm feitos homenagens a outros artistas. E estas homenagens, segundo a mesma, são actos de cidadania porque beneficia a Cultura, que na sua visão fala por todo.
EVENTO
Minutos passados da hora do espectáculo, Irina Vasconcelos ainda não se encontrava no palco. Durante a sua ausência, a organização da Trienal de Luanda decidiu surpreender a artista com uma projecção em vídeo que estava a ser acompanhada pelos instrumentistas Divino Larson e Kappa D. “A Trienal decidiu abrir o espectáculo com um vídeo em que ela musicaliza o poema de Alda Lara e interpreta a música de Lourdes Van-Dúnem”, afirma a cantora em palco.
Durante o concerto Irina interpretou vários temas, da sua autoria como de outros cantores que, na sua opinião, reflectem aquilo que ela é e a realidade do quotidiano. “O ‘Kelele’ é a música que diz: step by step, you will be free. É um tributo à música feito no Sul da África. Porque unir África é exactamente experimentar as raízes a todos os níveis”, descreveu a artista, admitindo que “Mulatinha” é uma canção em homenagem à chuva, pois quando cantam em língua nacional as pessoas dizem: “Oh! Não têm aquelas eloquências”.
Finaliza dizendo: “escrevo em Português e Inglês e é neste tributo que experimento cantar em Kimbundu”, rematou.
O evento contou com a presença de agentes culturais, fazedores de artes, fãs e o artista Adão Minjy.