Venho prestando auxílio a um amigo que se prepara para redigir o guião de um filme que incluirá um grandioso casamento em Angola. Ao analisar gravações de vídeo de cerimônias recentes, deparei-me com uma notável mudança nas tradições nupciais, a qual espelha uma evolução nas atitudes sociais.
Quando era criança em Angola, a noiva apresentava-se, por norma, com um semblante triste durante o seu casamento. Não raro, vertia lágrimas — não de alegria, mas de uma genuína melancolia por deixar para trás os seus pais, amigos e a vida confortável que conhecia. A sua tristeza advinha do confronto com o desconhecido: a súbita assunção das responsabilidades de se tornar esposa, potencialmente mãe, e de integrar uma nova família por inteiro.
Ao observar os vídeos de casamentos contemporâneos, constato o oposto. Agora, são as noivas que exibem um entusiasmo vibrante, enquanto os noivos frequentemente se mostram mais contidos. Em numerosas gravações, as noivas dançam com fervor, cumprimentam os convidados com gestos efusivos de “high-five” e parecem prestes a saltar dos seus vestidos de noiva para expressar a sua alegria. Os homens, por sua vez, observam, muitas vezes com um misto de espanto e admiração, a exuberância das suas esposas.
Esta transformação abrange também o vestuário e o comportamento. As noivas angolanas modernas preferem vestidos que realcem as suas formas — decotes ousados e designs que acentuam as suas silhuetas. Algumas executam danças sugestivas que teriam sido impensáveis nas gerações anteriores.
Até os discursos de casamento sofreram uma metamorfose. Tradicionalmente, um tio ou um membro sénior da família aconselhava a noiva a honrar a sua nova família, respeitando o marido e preservando certos valores. Hoje, há próprias noivas que tomam a palavra, elogiando publicamente os seus maridos e declarando como o escolheram “entre muitos pretendentes”. É comum que agradeçam a uma extensa lista de pessoas significativas nas suas vidas, enquanto os maridos as contemplam com um sorriso de apreço.
O que se afigura particularmente marcante é o facto de as noivas, durante a dança, se esforçarem por parecer o mais sedutoras possível, como se quisessem transmitir a mensagem de que o casamento não lhes diminuirá o encanto. Não se pretende com isto sugerir que, no passado, não existissem relações apaixonadas após os casamentos; porém, tais questões não eram exibidas ou celebradas de forma tão ostensiva.
Cheguei mesmo a visionar uma gravação de um casamento em que a noiva, no seu discurso, disse ao noivo para “se preparar para essa noite”, pois ela estava plenamente pronta para ele, acrescentando que, caso houvesse “falhas”, dispunha de alguns paus de Cabinda para remediar a situação. Todos riram, embora eu tenha notado um leve lampejo de desconforto no semblante do noivo enquanto ela proferia tais declarações.
Um fator determinante nesta mudança reside no facto de as mulheres agora contribuírem significativamente para o financiamento dos seus próprios casamentos. Desejam cerimónias opulentas e possuem os meios para as custear, o que lhes confere maior influência sobre o desenrolar do evento. O casamento transformou-se numa afirmação do valor próprio da mulher. Muitas noivas são mais velhas, estão estabelecidas nas suas carreiras e gozam de independência financeira — algumas até possuem as suas próprias casas e têm filhos de relações anteriores. Este cenário dista imenso da imagem tradicional de uma jovem sendo levada de uma aldeia para outra.
A influência das igrejas pentecostais também se revelou significativa, não apenas em Angola, mas em toda a África. Muitas mulheres frequentam a igreja na esperança de encontrar um marido, encarando o casamento como uma bênção divina — algo próximo da teologia da prosperidade. Quando uma mulher logra um casamento, este é visto como um favor divino, e responder com uma gratidão silenciosa pareceria insuficiente. Em vez disso, há um imperativo de demonstrar agradecimento através de danças exuberantes e proclamações jubilosas.
A um nível mais profundo, estas mudanças indicam que as mulheres agora esperam mais do casamento. Não se trata apenas de idealismo ou ilusão — mulheres na faixa dos 20 a 30 anos desenvolveram expectativas específicas sobre o que um marido deve ser. Desejam parceiros que as auxiliem na criação dos filhos, que as escutem, que as apoiem profissionalmente, que lhes proporcionem conexões valiosas e que as façam sentir-se especiais. O marido ideal é, simultaneamente, um companheiro de alma e uma espécie de troféu — alguém que possam apresentar com orgulho aos amigos.
O propósito fundamental do casamento transformou-se. Tradicionalmente, o matrimónio servia primordialmente para unir grupos familiares ou clãs, com objetivos utilitários de combinar recursos e perpetuar valores familiares através da socialização. Agora, o propósito mudou drasticamente. Observa-se um afastamento da noção de que o casamento existe essencialmente para a propagação do clã ou da família. Algumas mulheres casam-se já tendo filhos, enquanto outras planeiam ter apenas um ou dois filhos, se tanto.
O que se destaca em muitos destes vídeos de casamento é a forma desinibida como as noivas angolanas modernas expressam as suas expectativas de intimidade física. Estas jovens mulheres manifestam abertamente entusiasmo pelos aspectos físicos do casamento, ansiando por uma vida de relações apaixonadas. Seja a sua exuberância genuína ou algo performativa, ela contrasta fortemente com a reserva da noiva tradicional. Muitas destas mulheres pouparam durante anos para custear casamentos tão elaborados, encarando-os como uma proclamação pública do seu estatuto relacional e das suas expectativas…