Estas palavras foram proferidas pelo artista plástico e curador angolano Fernando Alvim, durante a segunda edição da Africell Luanda Feira de Arte ocorrida neste Sábado, 28, no Palácio de Ferro, em Luanda.
O artista foi o convidado principal para o Conversas #03 – “Perfil do Artista: Fernando Alvim”, um espaço de diálogo directo e aberto, moderado pelo jornalista Pihia Rodrigues, cuja abordagem centrou-se no seu percurso profissional e o seu contributo cultural de 46 anos.
A nossa reportagem procurou saber do artista se os seus trabalhos, iniciados em 1979, foram considerados pela comissão organizadora das condecorações dos 50 anos da Independência de Angola. Em resposta, Fernando Alvim afirmou que “em 2022 já fui Prémio Nacional de Cultura e Arte e já me é suficiente”, não descantando, no entanto, a possibilidade de aceitar uma eventual distinção, caso venha a ser indicado.
Segundo Alvim, durante os últimos quatro anos longe dos holofotes, tem estado a residir e a desenvolver os seus actuais trabalhos artísticos na Ilha do Mussulo.
“Como estou a trabalhar na Ilha do Mussulo há quatro anos, estou interessado na história da Ilha da Cazanga. Estou a desenvolver um novo filme e a produzir quatro livros”, declarou o artista, sustentando que não está a fazer exposições porque o seu processo criativo exige tempo e amadurecimento.
“Além de demorar algum tempo a criar, fico muito tempo no meu ateliê a produzir. Não é bom apressar algo que necessita de maturação”, reforçou.
Autor e promotor de eventos afirmou que os seus 46 anos de entrega à cultura o deixam realizado, revelando o desejo de continuar a trabalhar com profundidade nos seus actuais projectos de livros e filme.
“Muitas vezes, nós, na arte ou na criação artística, temos uma velocidade que pode ser exagerada para o que o artista deseja. Não tenho outra ambição senão concluir estes quatro projectos”, declarou Alvim, apontando os anos de 2026 e 2027 como metas para apresentar a produção do filme que começou a escrever e pintar em 1989.
Regresso da Trienal de Luanda
O idealizar de um dos maiores movimentos culturais de Angola, a Trienal de Luanda, Fernando Alvim declarou que o evento não irá regressar.
“O acordo que tivemos foi para desenvolver três trienais. Penso que devem existir trienais e bienais de outras áreas, como a Bienal de Arquitetura”, fez saber o antigo vice-presidente da Fundação Sindica Dokolo, explicando igualmente que as edições da Trienal de Luanda foram concebidas para um momento específico do país, com o objectivo de encontrar soluções que permitissem o desenvolvimento da criação e produção artística nacional.
Questionado sobre os alegados boicotes da imprensa, Alvim esclareceu que não tem sido de toda a imprensa como tal. “É mais a imprensa internacional, que gosta muito de tragédias e problemas. Não é de toda a imprensa. É mais a imprensa internacional, que gosta muito de tragédias e problemas. Naquela altura, aqui no Palácio de Ferro, empregámos 47 pessoas durante dois anos e meio, e outras durante dez anos. O PNUD deveria estudar isso”, desafiou, sustentando que “essa instituição tem a mania que encontra sistemas e projectos para nos ajudar, mas que no fim não se interessou por um fenómeno que, no nosso ponto de vista, merecia atenção”.
Fernando Alvim é arquitecto, músico, pintor curador angolano que inaugurou a sua primeira exposição de desenho aos 17 anos, na Avenida Lenine, em Luanda.