Com 56 poemas evangélicos cantáveis, o segundo livro de Mozier Jocand, intitulado “Sinos do Evangelho”, chegou às mãos dos leitores angolanos na tarde de terça-feira, 30, na União dos Escritores Angolanos, em Luanda.
Cris Jonasse & Cássia Bandeira*
Marcado pela elevação da espiritualidade musical sacro, assistiu-se a dança contemporânea, poesia ao vivo e Stand up Comedy, cedendo um volume de oxigénio à tarde, que se fazia noite para um momento tão esperado, em que o “parto” do segundo filho literário de Mozier, se confundia com um espectáculo multicultural. Ressurgia o livro da crítica para as mãos do público, os sinos soavam em cada instância.
O livro ganhou ressonância estética na sua exposição e apresentação crítica, desconstruída como uma ferramenta de renúncia e denúncia aos modus operandi a que o actual quadro social e moral sequestrou o País, como o autor adianta em exclusivo ao Marimba Selutu.
“O escopo desta obra tem a ver com a educação, ética e a reorientação social de maneira que tenhamos uma sociedade guiada pelos valores do amor, paz, harmonia e da solidariedade”, explanou o autor, durante o seu momento de comentários em torno da obra.
Por sua vez, o crítico literário Pedro Mayomona, convidado a apresentar o escopo que marcam a luz nos versos da obra de Mozier, entende a obra como sendo de uma visão poli-estratificada cuja ideia máxima é a de traduzir a fragilidade das políticas públicas, inflação dos mercados, lucro fácil, hipocrisia, guerra e mortes de pessoas em grande escala.
“Sinos do Evangelho” do ponto de vista formal e funcional é uma obra que resume os gritos, incluindo o apelo ao despertar de consciência presas sem doutrinas que obscurecem a fé e a razão, olhando para o sentido exacto da palavra “Sino” que toca para várias chamadas de atenção, trazendo uma visão moniqueísta de cosmos que dá sustento ao discurso crítico da mesma obra.
“É um ótimo livro porque transmite a reconciliação e a união dos que realmente acreditam”, ressaltou o crítico e professor angolano.
Quem corrobora na mesma esteira de ideia é o jurista e crítico literário Fernando Dhyakafunda, que enalteceu a veia poética do autor, considerando a obra “Sinos do Evangelho” como uma poética que surge na contramão do discurso unânime. “Vivemos um tempo em que a ‘cultura da vala comum’ coloca as pessoas longe do território de silêncio e da ‘luminum racio’ e, dessa forma, a paz que se procura nunca se encontra porque o Evangelho, traço de união que nos leva a comunicar com o Omnipotente, foi substituído pela vida da vala comum (vida fast food)”, explicou o especialista, acrescentando ser tão fácil criar barreiras ao invés de pontes num coração que está sempre pronto a se tornar uma arma de combate.
O homem das letras acrescentou ainda, que “Sinos do Evangelho” é um livro de sabedoria, um caderno com notas preciosas sobre a palavra de Jesus Cristo, a disciplina da escuta interior, a ciência da ressonância afectiva, a arte de viver bem como exercício paciente, humilde e corajoso de busca e de construção de sentido e de fecundidade.
Sustentou ainda ser uma pequena fenomenologia do desejo e uma breve história da alma humana, em tempos que tendem a negligenciá-la e mesmo a removê-la da cultura e dos saberes.
Eufóricos e com elevados aplausos, o público no local considerou o livro uma revolução apostólica, dado o nível de intervenção social a que os versos emparelham nos conceitos e noções da religiosidade.
Estiveram presentes no acto de lançamento e sessão de autógrafos os escritores Bussulo Dolivro, Fernando Guelengue, Domingas Monte e representantes religiosos de várias denominações religiosas e escolares.
Nascido do amor de Fonseca Candumbo e de Felícia Joaquim no 14º dia do mês de Julho de 1984, no bairro Lixeira do Município do Sambizanga – Luanda/Angola, Mozier Jocand é pseudónimo literário de Moisés Joaquim Candumbo.
O autor é poeta, prosador, conferencista e tem textos publicados em revistas, antologias, jornais, sites e ou blogs. É investigador, comentarista para questões da realidade social e cultural.
*Estagiárias.