- Publicidade -

Influenciado pelo tio, cujo desejo era que continuasse no Semba que o mesmo fazia, Gilberto Melo afirma que começou a gostar de música aos 12 anos, ouvindo canções dos “kotas”. Assim, o também estudante de Direito, chama atenção aos jovens para pesquisarem os mais velhos antes de produzirem o Semba para não desvirtuar a essência dessa música.

Por outro lado, o artista afirma que está a trabalhar o seu primeiro álbum, mas não irá lançá-lo ao mercado tão cedo, justificando que um músico deve pensar primeiro em fazer carreira. Por isso, argumenta, sonha ser um grande cantor e tocar em grandes palcos.

Gilberto é músico e trabalha há muitos anos nessa carreira musical. Conte-nos um pouco como tudo começou?
Tudo começou por intermédio do meu tio que se chama Chico Lola, ao qual cantava igualmente o estilo angolano Semba. Então, impulsionou-me para que eu viesse dar continuidade nesse género. Tenho já gravado três títulos, dos quais a música promocional “Não me Toca”.

Também, à semelhança de muitos artistas, teve de passar por coral da igreja?
Não cantei em algum coral da igreja, mas comecei a cantar em casa com ajuda do meu tio, que já tocava o violão. Então, iniciei a cantar nas festas infantis, com o carnaval e outras festas de crianças e nasceu aí a paixão. Não obstante, hoje em dia, vimos que essa essência se está a perder. As nossas brincadeiras como o “ficou” e o “cafucafuca”, já não vemos nos pavilhões, perdendo a valorização que teve no passado. Devemos escrever as nossas essências para quando vier um estrangeiro levar o que é nosso, o alegado.

A música não é algo estático, é muito dinâmica como a água do mar, que está sempre em movimento

 Diz-nos quando é que a música entra na sua vida?
A música entra na minha vida desde pequeno. Aos 12 anos, começo a gostar de ouvir música dos mais velhos como Bonga, Bangão, Carlos Lamartine, Elias Dya Kimuezo e outros artistas da época. Ainda assim, aos 24 anos, passei a levar a música mais sério, porque a música não é algo estático, é muito dinâmica como a água do mar, que está sempre em movimento. Movimentos esses que nos permite levar a música mais além, pois para a conhecermos, temos de entrar em pesquisas e em becos e buscarmos aquelas ideias dos mais velhos ou caçarmos aquelas histórias escritas para que possamos fazer o que nos é mais importante e levar-nos ao objectivo principal, que é fazer crescer na nossa carreira musical.

Falou que a música é um movimento que requer pesquisa. Desde que entrou no ramo musical a sua ausência no mercado mediático deveu-se a tentativa de mais pesquisas para conseguir trazer um produto mais sólido no mercado?
Com certeza! Porque, a música é algo com dinamismo. Se não conseguimos fazer realmente aquilo que o mundo hoje nos traz, ficaremos no tempo. O mundo está mais moderno e mais exigente, então o músico tem de trazer essa particularidade. Ou seja, nós devemos viver do passado, presente e do futuro. Temos de cantar às histórias dos mais velhos, dos mais novos e às do futuro, porque se compreendermos as músicas passadas, também perceberemos a vivência do presente e provavelmente a do futuro.

Mas o que isto tem a ver?
Isto é importante para que permaneçamos acordados para não adormecer na carreira musical. Os géneros musicais têm particularidade próprias: algumas pessoas, ás vezes, querem um género mais calmo; outras, porém, querem estilos mais ritmados e há ainda outras, com género mais agressivo. Então, devemos ter um intercâmbio com um mercado mais abrangente, porquanto podemos pensar que estamos muito dinâmicos, mas, na verdade, não estamos e acabamos por ficar no tempo. Quando recorremos em pesquisas ou em busca daquelas histórias dos mais velhos e dos mais novos, por exemplo, ouvindo a música de Elias Dya Kimuezo e Gegé Cuia Bué, juntaremos o útil ao agradável para que se fazer música com qualidade.

Em breves palavras, qual é o seu objectivo na música?
O meu objectivo na música é fazer carreira para que eu não venha tocar e cantar apenas no bar, casamento, aniversários e outros. Eu quero tocar em grandes eventos, pisar em grandes palcos com os grandes artistas da música angolana.

Sobre os músicos mais velhos, isso remete-nos a uma análise simples. Os géneros que canta são semba e kilapanga, para além desses tem trabalhado em outros?
Nós, ás vezes, não devemos fazer apenas um ou dois estilos.

Quais são os géneros que te caracterizam?
Os géneros que me caracterizam são o semba e a música folclórica.

No âmbito desses dois géneros, alguma língua nacional tem implementado nas suas músicas?
Eu implemento quatro ou cinco músicas em língua nacional kimbundu, apesar de não falar, mas vou buscando as traduções das mesmas nos mais velhos.

Quais são os mais velhos que o tem ajudado nas traduções?
Tem o mais velho Nelito; o falecido Bangão, que também já me ajudou e o mais velho José Cafala. Nós devemos recorrer a estes mais velhos, porque quando, por exemplo, completarem 80 ou 90 anos, quem os vai substituir? Devemos dar continuidade para que isso não venha morrer, porque se acontecer, não teremos a verdadeira essência da música.

Nós queremos cantar e tocar o semba, mas não queremos aprender tocar um instrumento musical como o batuque, a dikanza, o violão e a marimba

 Na sua geração, como está a valorização do semba e o kilapanga?
O semba e o kilapanga são géneros musicais que devemos pensar e analisar, porque hoje em dia, a pessoas quando vão ao estúdio cantam à toa, ou seja, não é semba que cantam. Nós queremos cantar e tocar o semba, mas não queremos aprender tocar um instrumento musical como o batuque, a dikanza, o violão e a marimba, por exemplo. Por isso, queremos ir ao estúdio, porque há lá um computador que facilita limpar a nossa voz, caso não tenha qualidade.

Quais são os instrumentos que toca e quem faz as suas composições?
Eu trabalho as minhas composições, por exemplo, a música, “Não me Toca”, que já está a tocar em muitas rádios, fiz a melodia e Dj José Samoda fez produção e teve a participação Cláudio Galiano, um amigo meu que canta música romântica. Essas músicas foram gravadas em 2016, mas por questões pessoais e fazer também os reparos para que entrar no mercado com qualidade, estávamos um pouco parados.

Falou que esteve parado por causa das questões pessoais e profissionais, fora da música o que tem feito?
Sou funcionário público, sou estudante universitário no curso de Direito.

Como concilia a música e o Direito, futuramente pode ser um advogado?
Eu acho que a música fala mais alto, mas nós devemos-nos formar para que venhamos dar exemplo a certas pessoas. Às vezes, pensa-se que os músicos não estudam, não sabe falar ou escrever, pelo contrário, é alguém que tem de aconselhar a sociedade.

Antes de ser músico, primeiro foi um compositor?
Começo a escrever, porque tenho muitas músicas não tocadas. E quando eu comecei aprender a tocar, procurei realmente a ir buscar as melodias, as harmonias e os ritmos para poder compor. Se não escrevermos uma composição, aquilo será algo esquecido. Assim, a composição escrita é muito importante para que possamos lembrar o que fizemos. Depois de tudo feito, o vou a procura dos mais velhos para fazerem a avaliação das minhas músicas e quando a música, é bem cantada, pois não há barreiras ou não tem fronteiras que a impeça.

Nós estamos um pouco fraco, pois os músicos estão-se a basear mais na música electrónica 

Como tem acompanhado a evolução de música ao vivo?
Falando sobre isso, nós estamos um pouco fraco, pois os músicos estão-se a basear mais na música electrónica. Não conseguimos ir buscar aquilo que realmente vimos no passado, a nossa essência.  Como por exemplo, se vir os mais velhos como Mito Gaspar a tocar a marimba, o violão, ficas totalmente preso no ritmo. No entanto, hoje vimos jovens a darem continuidade ao violão, como Baptista ou Manuel Mendes. São jovens que os mais velhos estão a passar os seus testemunhos. Jovens devem receber os testemunhos do mais velho para depois passarem para os mais novos.

Em termos de projectos, como está à sua carreira?
O meu projecto está indo bem, está numa fase de promoção. Não penso ainda em autografar um CD, pois o músico deve pensar em fazer carreira, em ter um nome, uma posição e só depois nisso. Penso que o músico, nesta altura, já está mais conhecido e reconhecido. Mas, a minha carreira está a caminhar bem, tenho feito algumas actuações em restaurantes, casamentos, festas de quintais, aniversários, pedidos e outros eventos.

Deixe o seu comentário
Artigo anteriorArtistas lamentam estado actual da Cultura
Próximo artigoO recado de Tony Nguxi à Nação

DEIXE O SEU COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui