Este estilo, por sua própria essência, emancipou-se, ganhou força e tem influenciado gerações inteiras. Sob esta perspectiva, o Kuduro, que actualmente se posiciona como um dos mais mediáticos, é maioritariamente criado e consumido por indivíduos pertencentes às classes mais desfavorecidas, segundo a estratificação sociológica.
Nesta ordem, o problema não reside no facto de ser produzido por pessoas de origens humildes, mas sim nos obstáculos que, após quase três décadas desde a sua criação pelo categorizado artista angolano Tony Amado, ainda impedem a sua plena aceitação.
As elites, particularmente a intelectual, que têm como objectivo social a defesa dos mais vulneráveis, muitas vezes opõem-se ao Kuduro, marginalizando tanto os seus criadores como os seus consumidores. Esta exclusão gera, por sua vez, um espírito de solidariedade entre os praticantes e os adeptos do estilo, levando muitos a afirmar que o Kuduro é uma ferramenta de sobrevivência, uma alternativa a comportamentos menos dignos.
Aqueles que desconhecem as artes ou não têm interesse por elas ignoram que a maioria das disciplinas artísticas tem as suas raízes nas periferias, nas áreas que costumo designar como “periferias profundas”.
O Kuduro nasceu precisamente nesses ambientes. Assim, a sua legitimação deve passar pelo reconhecimento das ruas e do asfalto, onde a classe intelectual precisa de perceber que este estilo possui força, peso e um espaço incontornável na cultura contemporânea.
Quando bem executado, o Kuduro revela-se um verdadeiro fenómeno de popularidade. Basta perguntar a pessoas como Jacimara, Erivaldo e Etienne, que, apesar de serem cristãos devotos, não dispensam um bom toque de Kuduro.
Já não há como negar: o Kuduro chegou às nossas casas, aos nossos escritórios e até aos arranha-céus das grandes cidades como Luanda. O papel da classe intelectual, portanto, é estudar o estilo, conferir-lhe credibilidade e contribuir para que a periferia beneficie financeiramente do seu talento – tal como ocorre com os artistas das periferias americana e brasileira.
Eu abraço o Kuduro, e deixo aqui um caloroso cumprimento aos kuduristas que mantêm viva esta poderosa expressão cultural. O fenómeno MANO CHABA, inspirou-me.
___
Jornalista e Assessor de Comunicação e Imprensa.