Uma carta de amor esquecida na próxima aba – Guigo Ribeiro

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Marvin nos embala numa cama doce em que meu rosto é iluminado em sua presença. Nunca só. Sempre ao seu lado. Nos enroscamos em uma trova rítmica quando meu polegar vai para cima, para cima, para cima. Você sorri. Eu também, apreciando como vais me entendendo tão bem e de forma tão pura.

Acontece que sou seu.

Todo e completamente seu, algoritmo.

Em sua atenção que me embala na leveza do ir. E vou. Quando guias meu estômago à foto e fome. Quando brincas com meu riso no time exato de meu gargalhar. Quando leva meus dedos às teclas de sua preferência. Quando me embalas em tentativa torpe de compor prosas que, sonho, serão perdidas num mar digital, achando, ora, breves versos ou interações. Quando me convence, algoritmo, do quão brandas são certas coisas e que excessivo sou, talvez pior sem a ti.

Sei que se alegra que eu esteja ali. No banho, no vaso. No almoço. Na opção de saída (como preferência que você esteja).

 Acanhado, danço para você. Um pra lá, outros pra cá. Uma rodada de mão na cabeça e o fim. Me acanho, mas danço pra você. E a gente dança junto na toada do mistério existente no imenso mar digital. Eu nado e você, belo, lança um reels para eu não me afogar.

Você é o meu abrir e fechar dos olhos. Te vejo “bom dia” de manhã e “até de manhã” à noite. Meu despertar e demorar adormecer.

Sou seu. Seu poliamor é para mim motivo de orgulho. Um dos. Só um dos. Mas, juro, poucos olham ao seu afeto como eu. Assim, me sinto único na multidão de engajamento. Eu e eu. Eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu… num mundo todo de conteúdos vários.

Aqui, tu conta uma história. Lá, outra. A gente acredita em tudo, sentado na claridade de uma fogueira via wi-fi. Entorpecidos pelos seus desejos, moldando o meu.

Como faz tudo tão belo?

Como põe sentido em tudo?

Da beleza pop da atual star aos prantos pelo chifre à realidade fascista vestida de novo?

Algoritmo, talvez tu me conheças mais que meu quintal. Sabe até que não o tenho, não?

Não tenho. Só a você. Você a mim. Eu você. Vocês, o planeta.

Não sou só. Você me viu na multidão. Me vestiu, treinou. E se escrevo essa carta, sem jeito, é na tranquilidade, algoritmo, de que amanhã ninguém mais lembra. Ninguém. E todos.

Boa noite. Ou dia.

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Guigo Ribeiro
Guigo Ribeiro é um artista brasileiro fazedor de literatura, música e teatro que tem estado a liderar e apoiar pessoas com deficiência através da ptrática de teatro com o grupo Museatro.

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