O maestro holandês Bernard Haitink morreu na noite desta quinta-feira, 21, na sua casa, em Londres, aos 92 anos, conforme anunciou nesta sexta-feira,22, a sua equipa de agenciamento artístico. Até ao momento não foi revelada a causa da morte.
Nascido em Amesterdão, a 4 de Março de 1929, Bernanrd Haitink dirigiu as mais importantes orquestras mundiais, como a Sinfónica de Londres, a Filarmónica de Nova Iorque e a Staatskapelle Dresden.
Com mais de 65 anos de carreira de maestro, o também violinista Haitink distinguiu-se como um dos principais intérpretes das obras orquestrais de Gustav Mahler e Anton Bruckner, e em particular como titular da Real Orquestra do Concertgebouw, de Amesterdão, que dirigiu durante 27 anos, colocando-a entre as principais orquestras mundiais.
Durante o seu percurso artístico gravou mais de 450 trabalhos discográficos editados, muitas dos quais premiadas por publicações especializadas como as revistas Gramophone, Diapason, Clássica e as antigas Repertoire e Le Monde de La Musique, quase todas referenciadas nos guias de audição Penguin e Gramophone, outras nomeadas para os prémios Grammy e várias distinguidas, como as suas gravações de Janacek (“Jenufa”) e Shostakovich (Sinfonia n.º 4), compositor de quem era também privilegiado intérprete.
O artista dirigiu igualmente o festival de Glyndebourne, a Royal Opera do Covent Garden, e foi o maestro principal da Filarmónica de Londres, com a qual conseguiu interpretações descritas pela crítica britânica como “arrebatadoras”, até à sua derradeira temporada, terminada em 2019.
A infância e adolescência de Bernard Haitink foi marcada pela ocupação nazi dos Países Baixos, iniciando a sua carreira como violinista no final dos anos 1940 e como regente 14 anos depois com a Filarmónica da Rádio Holandesa, com quem trabalhou durante seis anos.
Seguir-se-ia a Real Orquestra do Concertgebouw, onde se manteve como maestro titular durante 27 anos, até meados da década de 1980.
De acordo com a Lusa, citada pelo Observador, o primeiro contacto com a Real Orquestra do Concertgebouw aconteceu em 1956, quando lhe foi pedido que substituísse, à última hora, o destacado maestro Carlo Maria Giulini, na direcção do Requiem de Cherubini — oportunidade que inicialmente recusou, por não se achar à altura. Mas o concerto terá sido um sucesso, o que permitiu passar como maestro convidado da orquestra e, em 1961, a maestro assistente.
A BBC recorda esta sexta-feira a sua estreia nos concertos Promenade, no Royal Albert Hall, em Londres, em 1966, com a 7.ª Sinfonia de Bruckner, com a duração de mais de uma hora, que manteve atenta toda a audiência, num programa então inédito para o festival, programa que o maestro repetiria 53 anos depois, no verão de 2019, no mesmo local, num dos seus últimos concertos.
OPINIÕES SOBRE O MAESTRO
Haitink não era “um maestro ‘glamouroso’”, como escreveu, em 1975, o crítico principal do The New York Times, Harold C. Schonberg, depois da estreia do regente com a Filarmónica de Nova Iorque, exatamente na Sinfonia n.º 7 de Bruckner, recorda hoje o jornal norte-americano. “Haitink não dança, não usa [o fraque do] melhor alfaiate”, mas faz “o que deve ser feito, obtendo precisamente o que quer dos seus músicos”.
Quando lhe foi atribuído o Prémio Gramophone de Carreira, em 2015, o pianista Murray Perahia, que gravou com Haitink e a Concertgebouw, a integral dos concertos para piano e orquestra de Beethoven, recordou o que considerou “uma verdadeira colaboração: um dar e receber natural”.
Em entrevistas, Haitink referia-se à música como um espaço dentro do qual se movia. “Viver dentro da música”.
Nas suas gravações destacam-se os ciclos completos das sinfonias de Bruckner, Mahler, Beethoven, Brahms, Tchaikovsky, Mendelssohn, Schumann e Shostakovich, assim como de Elgar e Vaughan Williams; as obras orquestrais de Debussy, Beethoven e Brahms, e os ciclos sinfónicos que cumpriu com a Sinfónica de Londres, nos últimos 15 anos, para a editora própria da orquestra, LSO Live.
“O que faz um bom maestro?”, interrogava-se Haitink, numa entrevista ao jornal The Guardian, em 2011. “Ainda me pergunto, depois de todos estes anos”.
Haitink apresentou-se por diversas vezes em Portugal, nomeadamente nas temporadas de música da Fundação Calouste Gulbenkian e nos seus Ciclos das Grandes Orquestras Mundiais, e também na Casa da Música onde, logo em 2005, dirigiu a Orquestra de Jovens da União Europeia — uma orquestra composta por músicos de mais de duas dezenas de países europeus, facto que sublinhou e considerou, na altura, uma experiência única.