Quando em 1980, a Assembleia do Povo decide instituir o Dia do Herói Nacional, o objectivo era claro: reconhecer o contributo do primeiro Presidente António Agostinho Neto na luta armada contra o colonialismo português e na conquista da Independência nacional.
Numa altura em que assinalamos o seu centenário, fica cada vez mais claro que a vida e obra do médico, político e poeta, com todas as controvérsias do seu percurso, é acima de tudo pilar fundamental da nossa memória colectiva. E isso é notável em toda África.
A influência do primeiro Presidente de Angola para a luta de libertação contra os regimes coloniais que predominavam em África, principalmente na região austral, é reconhecida em todo continente.
Os seus contemporâneos nunca deixaram de reconhecer que os feitos e, depois da sua morte, ajudaram a consolidar a memória colectiva de que hoje África se pode orgulhar. Foi afinal um Estadista e nacionalista de reconhecimento internacional que, com o espírito de solidariedade,
contribuiu para a causa dos povos que necessitavam de liberdade e desencadeou intensas acções diplomáticas que permitiram a afirmação das Repúblicas da Namíbia, Zimbabwe e África do Sul como nações livres da opressão colonial.
Além disso, o primeiro Presidente de Angola foi também um dos principais impulsionadores para a criação da Organização de Unidade Africana (OUA), com o objectivo da defesa da “negritude” e do “africanismo” no contexto internacional.
O contributo do António Agostinho Neto, na descolonização de África, especialmente de Angola, teve igualmente natureza político-filosófica. A sua linha de pensamento, sobretudo, através dos discursos históricos, proferidos nalgumas universidades africanas, antes da
Independência, revelam a sua Filosofia da Libertação, que teve um papel preponderante na descolonização.
Como nota António Quino num ensaio que publica nesta edição: “O poeta revolucionário, na tentativa de pôr a sua arte ao serviço do rural, procura destruir o mito de uma predestinação do homem negro à escravatura”.
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Gaspar Micolo é jornalista e director do único jornal público especializado em Cultura (Editorial do Jornal Cultura, Ed 224).