Somos os Melhores do Jornalismo SADC-2021 – Fernando Guelengue

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José Luís Mendonça é um escritor e jornalista angolano vencedor de vários prémios. Foto: DR
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Não basta sermos enaltecidos nas redes sociais. Não fica bem exaltarmos os feitos gloriosos no dia dos nossos funerais. Somos os melhores do jornalismo praticado em todos os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

A 41ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da SADC, realizada entre os dias 17 e 18 do corrente mês, na cidade de Lilongwe, Malawi, nunca mais sairá das nossas memórias enquanto angolanos, no geral e jornalistas, em particular.

O título do presente artigo já demonstra as razões, pois este acontecimento – atribuição de um reconhecimento regional – é uma oportunidade soberana do nome do nosso país entrar na história universal, pois a notícia passou por vários veículos de comunicação social, incluindo o nosso projecto de jornalismo cultural. Pelo menos, Angola não foi citada devido aos marimbondos do silêncio e aos caranguejos da suposta abertura. 

A categoria de imprensa do Prémio de Jornalismo da SADC 2021 teve toda a razão de ser, a olhar para aquele que foi o lema da cimeira, «Fortalecer a Capacidade de Produção face à Pandemia da COVID-19, em prol da Transformação Económica e Industrial Inclusiva e Sustentável», uma máxima que vai contribuir de maneira mais efectiva no processo de estímulo à implementação do Plano Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional (RISDP) da SADC 2020-2030, com particular destaque para os pilares da Industrialização e da Integração dos Mercados.

Poderíamos falar muito da industrialização e mercados, mas é a produção do SABER que me interessa abordar aqui, pois é a tónica dominante deste reconhecimento regional do jornalismo angolano, na pessoa do nosso representante, José Luís Mendonça, que nos honra!

Também foi, em 2015, Prémio Nacional de Cultura e Artes, vencedor do Prémio Jardim do Livro, tendo igualmente dedicado mais de uma década ao Jornal CULTURA, quinzenário angolano de Artes e Letras. 

O filho do Golungo Alto – terra húmida, com 1.989 quilómetros quadrados e uma população não superior a 40 mil pessoas -, José Luís Mendonça tem sido um verdadeiro produtor e divulgador de conhecimentos através da escrita, depois de ter lançado o seu primeiro livro “Chuva Novembrina”, em 1981. É um autor que começa antes da independência e gravita à volta de uma opinião sustentada no retrato que faz da realidade do país, antes, durante e após 75.

Além do seu rico trabalho literário publicado ao longo destes anos, contribuindo para a construção da angolanidade, é fundamental que destaquemos igualmente a sua preocupação com a partilha do conhecimento. É uma faceta de poucos escritores dar voz e vez às personagens angolanas que só falam nos livros devido aos elevados compromissos partidários nas suas criações.

Embora seja parte de uma geração de muitos angolanos que ficaram desiludidos pela fracassada independência nacional e angustiados pelo doentio processo de reconciliação nacional, José Luís Mendonça continua bem vivo e a somar com a produção criativa. Outros da sua geração encontram-se em lugares cimeiros do aparelho do Estado, a cimentar os pilares da falsidade de uma construção de barro.

Talvez não esteja a ocupar um lugar de destaque devido aos seus posicionamentos ao lado do desencanto de uma governação que se mostra incapaz de executar as promessas da construção democrática, através da abertura da liberdade, justiça e igualdade, elementos sine qua non para a elevação de uma verdadeira nação africana, sustentada nos pilares da verdadeira matriz da nossa Cultura.

Há muito que se falar a respeito deste profissional das letras. Deveríamos aprender a valorizar mais enquanto o mesmo – e tantos outros – se encontra vivo e consciente do esforço que faz em prol da construção de consciências lúcidas, pensantes, críticas e não alienadas para rumar o país numa nação capaz de interpretar os seus próprios fenómenos.

Depois do anúncio da prémio da SADC, as redes sociais de angolanos inundaram-se de publicações de reconhecimento e felicitações, algo que se teria reflectido concomitantemente nas mensagens dos governantes, académicos e até mesmo profissionais das artes e jornalismo. Sem falar mais dos gestores públicos, incluindo o twitter do número 1.

Até entendo que o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente seja um super-ministério, que acabará por não dar conta de tudo. É verdade. Mas uma coisa que esse super-ministério não nos deixa passar despercebido e, mesmo ao final de semana, ao domingo, são as mensagens de condolências pela morte de artistas. Foi assim que no domingo, 15, foi tornado pública uma nota de condolências pelo passamento físico do renomado Zé Viola, músico, compositor e intérprete falecido na passada semana. Até aqui, o kota Zé foi lembrado, mas na morte.

Ilustre ministro, também queremos mensagens de reconhecimentos dos feitos dos vivos. Os mortos já não sabem mais da elevação que mereceram, mas os vivos têm o direito do total respeito das noites investidas em prol do crescimento dos pilares da nossa Cultura, em geral e do jornalismo em particular.

O MCTA não deveria deixar passar essa soberana oportunidade de aproximar-se cada vez mais aos que fazem a Cultura angolana ser citada no mundo, pois o mesmo defendeu recentemente, nos Estados Unidos da América, a necessidade do fortalecimento das relações entre os dois países pelo mecanismo da diplomacia cultural.

Não devemos cantar muito para fora sem reconhecer melhor o trabalho do que andamos a fazer cá dentro. E, à semelhança de outros escritores e jornalistas como José Luís Mendonça, temos nomes como Agualusa, Carlos Ferreira, Dario de Melo, João Maiomona, Gustavo Custa, João Melo, Domingos da Cruz, Ribeiro Tenguna e tantos outros que a memória não me ajudou a registar.  

Não os enalteçam quando a morte os chamar, pois estão vivos e temos a oportunidade de, ainda num tom de nota de reconhecimento ou atribuição de um diploma de mérito, tornar glorioso os seus feitos.

Tenho dito com resiliência e fé.

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