O alvoroço tabu do silêncio no 27 de Maio – Fernando Guelengue

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Já passam 45 anos desde que, sob liderança do presidente António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola após a proclamação da Independência Nacional, terão sido assassinados milhões de angolanos no conhecido e considerado o maior massacre do continente africano.

Claramente eu ainda não tinha nascido, mas as consequências deste nefasto acontecimento ultrapassa a geração de que faço parte, tida como a que mais sentiu as “malambas” de todos os desentendimentos provocados pelos ditos Movimentos de Libertação Nacional.

Mas, a verdade que não se cala é que os verdadeiros responsáveis deste assassinato em massa, que afectou quase todas as famílias angolanas pelos números revelados em pesquisas e livros já publicados, ainda não apresentaram-se publicamente e nem mesmo têm tido a coragem e humildade de pedir um perdão real à Nação pelos estragos causados na coesão espiritual e social do País.

O que aconteceu foi que João Lourenço, na qualidade de Presidente da República, pediu desculpas públicas às vítimas do massacre.

Por que usar a capa de PR para pedir desculpas que seriam feitas pelo presidente do MPLA, onde estão os verdadeiros causadores? Como avançar do processo sem assumirem os passivos do massacre? E tantas outras dezenas de perguntas que num levantamento mais claro desperta a necessidade de encontrar respostas.

Um ponto importante a se reter aqui é o facto de descendentes da geração assassinada e demais jovens angolanos esclarecidos, começam a despertar para o debate do assunto, eliminado o alvoroço tabu do silêncio causado ao longos dos anos.

Apesar do número de mortes ser tão elevado, ainda temos no país muitos sobreviventes deste fenómeno social como familiares, amigos  e demais angolanos. Uns têm medo de falar porque, segundo fontes bem posicionadas, são funcionários de instituições públicas tuteladas por indivíduos que foram mandantes de tais crimes. Outros que iniciaram o percurso da liberdade financeira, começaram a ter um posicionamento mais crítico e livre para com os assuntos que dizem respeito a todos.

Os vários artigos sobre o assunto que foram publicados nos mais variados veículos de comunicação social e pelo Marimba Selutu, despertaram o maior interesse da sociedade e, a cada dia, alguns e tímidos passos vão sendo dado pela classe artística, como é o caso do músico e empresário angolano Dog Murras, que escreveu a sua opinião em relação ao assunto.

A grande maioria dos artistas tem medo de falar do 27 de Maio. Muitos são sustentados pelos dinheiros que possuem sangue do massacre que envergonha em tudo o nosso país e não apazigua os espíritos dos nossos ancestrais.

“Acredito neste país e por isso não me calo perante as injustiças, mas o silêncio dos bons não ajuda no processo de mudança de consciência, não facilita a crença na angolanidade dentro de todas as instituições políticas ou da sociedade civil”, referi durante o meu aniversário de Janeiro deste ano, na minha rede social.

Assim, devemos aprender a olhar as coisas do lado do bem-estar social de todos e eliminar a ideia segundo a qual os sobreviventes do processo é só que têm o poder/dever de falar.

O 27 de Maio é assunto de Angola e dos Angolanos, mas também de todos os cidadãos do mundo. Pois, qualquer problema que acontece em Angola acaba por afectar outros países do mundo.

Com RESILIÊNCIA&FÉ.

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