A televisão e o resgate da alienação cultural de Angola

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A primeira declaração que desejo fazer é a de que sou pai de filhas que um dia se tornarão mães deste país e a televisão angolana, infelizmente, ainda tem se comportado como um veículo poderoso de alienação cultural e desvio dos nossos valores sociais.

Muitos anos antes do meu nascimento e o de muitos angolanos lúcidos que fazem parte da nova geração de jovens que impactam Angola, o nosso país tornou-se independente do colono português (1975). Foi nessa fase que os conhecidos libertadores entraram numa contenda para pregar a vitória de uns e a derrota de outros, culminando na maior tragédia que colocou Angola nas piores posições de desenvolvimento humano e bem-estar social. Tem muita fraca valorização da cultura, miséria visível e corrupção patológica.

Mas é sobre a construção do homem novo, pregado pelos movimentos que guerreavam nas matas sem alinharem as cidades, que sempre motivou uns para as lutas e outros à manutenção do poder político.

Há vários autores que defendem que a melhor forma de tornar um povo refém das suas ideologias por longos anos, passa pelo processo de alienação cultural das crianças que se tornarão adultos praticamente limitados e medrosos com a fragilidade do sistema de ensino e uma comunicação social excessivamente instrumentalizada e partidarizada, promotora da podridão intelectual, de uma realidade ficcional e da efectiva bajulação.

Foi assim com a nossa infância que, graças a uma realidade muito diferente de intimidade nos relacionamentos interpessoais, tivemos mais tempo de brincar fora das telas e dos aparelhos digitais da modernidade: a inteligência artificial ainda não era conhecida. Mas a alienação cultural, é tida como a desvalorização dos valores que sempre fizeram parte dos hábitos e costumes, foi assumida pelos políticos que assumiram o comando do país há quase meio século.

Várias iniciativas escolares privadas caminhavam de forma paralela à fragilidade do nosso sistema de ensino e o governo estava sem qualquer capacidade de suportar o número tão reduzido de população estudantil, dá origem a jovens que são actualmente formados sem nunca frequentarem o sistema de ensino público.

Mas nem todos conseguiram escapar das armadilhas da televisão. Jovens se tornaram religiosos, conformados e medrosos porque a nossa televisão pregou tudo isso e mais alguma coisa ao longo destes mais de quatro décadas de emissão, tendo uma excepção declarada de alguns artistas que romperam as barreiras do “milintatismo” e se posicionaram como fieis resgatadores da nossa cultura.

E para o resgate desta tão longa alienação, iniciativas individuais são levadas a cabo um pouco pelo país. Organizações não-governamentais que lidam com menores e jovens têm trabalhado para uma maior valorização da cultura angolana, especialmente no que diz respeito a criança, o grupo que sempre é baptizado como o futuro do amanhã.

Uma das iniciativas que me parece bem-vinda e numa boa altura é a televisão de conteúdos educativos e infantil que está, mesmo que imitando os canais estrangeiros, fazer frente ao canal português Panda.

Trata-se da Kanuca TV, o conhecido primeiro canal infantil angolano que tem levado as crianças não só à diversão, desenhos animados, músicas infantis e vários momentos de aprendizagem, mas também a valorização dos valores há muito alienados pela grande mídia.

Aplaudida que está a ser alvo, não pode entrar para a estratégia subliminar de partidarizar as mentes das nossas crianças, pois defenderam aquando do sei lançamento, em Agosto deste ano que irão pautar por “uma criteriosa programação dos conteúdos, onde a diversão e a educação andarão sempre de mãos dadas, estimulando a criatividade, a curiosidade e o desenvolvimento saudável das crianças, contribuindo para o seu crescimento sociocultural.”

Desconhecendo como desconheço as pessoas que comandam a Kanuca Media Group, proprietária da Kanuca TV, deixaremos para um futuro breve todas as questões que pairam nas nossas mentes. Mas já é o espaço que mais ocupa as crianças angolanas desde o seu lançamento público.

Gratidão com Resiliência&Fé.

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