Todos estamos de passagem nessa Terra. O nosso país, depois da tão perturbada proclamação da Independência Nacional, enfrentou o pior e mais longo conflito armado entre irmãos da mesma pátria e resultou numa “Angola mutilada”, como cantou o músico e compositor imortalizado pela sua obra, Chissica Artz.
Parece que não, mas, ao escrever o presente artigo, senti-me arrastado por uma tristeza profunda pela ausência daqueles artistas e ente queridos que perdemos por diversos factores quer sejam naturais, sociais e outros, pois podiam ser muito bem evitados pelo nosso Sistema Nacional de Saúde, se é que o mesmo existe!
Pelo tempo de país que possuímos – sem contar os anos da Luta de Libertação Nacional – temos estado a ver e a ouvir o passamento físico de muitos artistas renomados de várias gerações. Todos partiram para outra dimensão, deixando um verdadeiro legado, uns mais mediatizados do que outros.
Maior parte deles marcou a vida e a trajectória de Angola com canções de intervenção social, as quais reflectiam também seus momentos mais altos de alegria e de tristeza através dos mais variados estilos musicais, animando o povo pela busca de um bem-estar social e sustentável, isto é, para eles, para os seus filhos e demais angolanos.
O número é grande e não existe espaço suficiente para contabilizar e nem memória para lembrar o contributo e comprometimento que cada um deu à arte. E como a lista destes pensadores sociais é infinita, trago aqui apenas a título de exemplo, músicos como David Zé, Urbano de Castro, Artur Nunes, Teta Lando, Waldemar Bastos, Bangão, Carlos Burity, Beto de Almeida, Action Nigga, Zé do Pau, José Kafala, Amizade, Saborosa, Própria Lixa, Nagrelha dos Lamabas e tantos outros.
A caminhada para a construção e desenvolvimento de um país é percebida a partir de aspectos muito simples. Estamos a falar do serviço de transporte público, do acesso à educação e cultura, de salas de cinema à nível das comunidades, do acesso ao livro, de bibliotecas, de iluminação pública, da valorização gastronómica, do saneamento básico e sem olvidar o acesso a assistência médica e medicamentosa. Todos estes aspectos dão longevidade aos pensadores sociais – artistas que criam trabalhos imortais. E é assim em todo o mundo.
Apesar do cachê que muitos recebem pelo seu trabalho artístico de qualidade internacional, o fraco poder da nossa moeda dramatiza a realidade caótica de Angola e afugenta a grande maioria dos artistas que se encontram minimamente estável em termos profissionais. Mas também, temos nos deparado com os visionários fazedores de artes da nova geração que, depois de conseguirem uns trocos, preferem abandonar o país para não amontoarem a lista dos “comunicados fúnebres” por negligência médica que não é apenas responsabilidade do médico ou do enfermeiro angolano, mas também do próprio sistema governativo do país.
Desta forma e sem muitas condições para emigrar, a maioria dos angolanos com fraca capacidade financeira e ausência de estratégicas/canais de saída, acalmam-se apenas nesta nostalgia pelo rico trabalho artístico desenvolvido por aqueles que somente foram honrados a título póstumo e passaram para o esquecimento amnésico total e imediato.
Centenas de angolanos perdem a vida de forma bárbara e jamais serão lembrados. Os que foram aqui citados e outros como Inocêncio de Matos, Nfulumpinga Lando Victor, Hilberto Ganga, Alberto Chakussanga e demais compatriotas, estão marcados para sempre na história escrita ou contada de Angola.
Razão pela qual, diante do gritante desespero, com todos os louvores de esperança e revolução do hino “Angola Avente”, o único caminho que resta para os artistas de pena sofisticada e criatividade aguçada como é o Carlos Ferreira, “Cassé”, é o de continuar a criar trabalhos emblemáticos para que os seus legados sejam lembrados para sempre.
Gratidão com Resiliência&Fé!