Camaronês dirige Casa das Culturas do Mundo em 2023

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Bonaventure Soh Bejeng Ndikung é curador e escritor camaronês de arte contemporânea. Foto: DR
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Actualmente a ser dirigida pela curador e director-geral  Bernd Scherer, a Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, Paris, terá sob sua liderança o curdor camaronês, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung.

De acordo com a DW, o curador Bonaventure Ndikung, que vai dirifir aquela importante casa da cultural mundial, a partir de 2023, considera “a arte é um espaço de debate social”.

Um artista considerado bem relacionado, Bonaventure gosta apresentar-se de ternos coloridos, geralmente com um lenço no bolso do paletó, tendo uma agenda de contacto tida como lendária.

A sua reputação como curador politizado o distingue, facto que levou a ministra alemã da Cultura, Monika Grütters, considerou um golpe de sorte que Ndikung vá suceder, a partir de 1º de Janeiro de 2023, a Bernd Scherer como diretor-geral da Casa das Culturas do Mundo em Berlim.

Ndikung tem 44 anos e uma presença marcante no mundo das artes que considera um espaço de debate social e “a mais alta forma de política”. “A arte é uma linguagem universal que é compreendida por quase todos”, sustenta.

ARTE PARA RECONECTAR

O curador Ndikung deixa isso claro  a arte também tem potencial para reconciliar quando fala sobre a Bienal de Sonsbeek, na Holanda, da qual é curador, ou sobre a mostra de arte Documenta 14, da qual foi curador. Ambos eventos que surgiram das ruínas da Segunda Guerra Mundial como artes para reconectar as pessoas. E a Bienal de Fotografia em Mamako, exposições em Argel e Dakar, ou o pavilhão finlandês na Bienal de Arte de Veneza têm a assinatura curatorial de Ndikung.

O artista conhece bem um campo político em que a reconciliação é necessária como é o caso das relações da Alemanha com seu passado colonial. Savvy Contemporary, um espaço para eventos criado por Ndikung em 2009 em Berlim, acaba de abrir a exposição For the phoenix to find its form in us (Para que a Fênix encontre sua forma em nós), uma maneira de analisar o atual debate sobre restituição de arte saqueada no período colonial.

“A exposição trata da restituição como reabilitação, também como reparação”, diz Ndikung. Uma declaração polêmica: após anos de hesitação, os museus alemães só recentemente anunciaram que devolveriam à Nigéria os Bronzes de Benin, trazidos para a Europa como arte saqueada.

AMPLIAR OS HORIZONTES

Ndikung não concorda com muitos aspectos do debate sobre restituição de arte. Ele vê isso como um beco sem saída e ao mesmo tempo gostaria de “descomplicá-lo”: “Muitas coisas deram errado e ainda estão sendo feitas de forma errada na história colonial”, diz o filho de antropólogo, nascido em Yaundé em 1977. “Temos que ver estas feridas e tentar curar algumas delas, se não todas”, diz Ndikung.   

No site da exposição de Berlim consta: “Não se pode reduzir a restituição à devolução de objetos se as pessoas que vão receber esses objetos continuam privadas do luxo de poderem respirar, nem dispõem de terra onde plantar nem de uma casa onde possam encontrar abrigo”.  

Em termos de restituição, a Alemanha já fez muita coisa, diz. “Mas é claro que não é suficiente.” Para Ndikung, a visão que se tem da África na Europa também deve ser ampliada, como mostra o exemplo de Anton Wilhelm Amo: no território que hoje é Gana, ele havia sido sequestrado como escravo infantil no início do século 18 e chegou, presumivelmente como um “presente humano” da Companhia das Índias Ocidentais, à corte do duque de Brunswick-Wolfenbüttel. 

A corte permitiu que estudasse e ele se formou professor de Filosofia e Direito. Seu trabalho de conclusão foi dedicado ao status legal dos negros na Europa. “Amo foi um importante estudioso de seu tempo, mas acabou apagado da história”, diz Ndikung, que recentemente celebrou Amo com uma exposição. “Qualquer um que hoje fale sobre Black Lives Matter não pode ignorar as teses da Amo.”

Existe uma lacuna de justiça entre o Norte e o Sul globais? “Sim, claro”, diz Bonaventure Ndikung. Como exemplo, ele cita o chamado da Organização Mundial da Saúde para a vacinação global contra covid-19. Muitos países ajudaram. “Mas nove ou dez nações asseguraram vacinas somente para si mesmas”, comenta. “Se não vacinarmos o mundo inteiro, haverá mutações, e o vírus mutante voltará para nós”. Ele acrescenta que é hora de pensar para além das fonteiras nacionais. “O mundo ficou menor, isso é uma realidade.”

DA BIOQUÍMICA À ARTE

Ndikung deixou sua pátria africana quando jovem. Ele estudou bioquímica em Kiel e obteve seu doutorado em Berlim. Ainda estudante, ele entrou em contato com artistas, começou a escrever sobre arte e deu seus primeiros passos como organizador de exposições. Aos 25 anos ficou surpreso quando Okwui Enwezor, nascido na Nigéria, tornou-se o primeiro africano a dirigir a venerável Documenta de Kassel, em 2002. Uma circunstância que impressionou o jovem Ndikung e o estimulou a continuar.

Vinte anos mais tarde, ele foi nomeado o futuro diretor da Casa das Culturas do Mundo. O atual diretor deixa para trás uma instituição organizada: ele reuniu vozes da arte, ciência e política para criar um fórum inspirador. Essa plataforma de discussão vai continuar sob Ndikung? “É claro”, diz, “o mundo está mudando drasticamente, nossa compreensão do mundo está mudando. Por essa razão precisamos de uma casa como esta, para debater isso.”

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