Princípios são princípios e nada mais – Marcolino Baptista

0
92
Marcolino Baptista é autor, jurista e magistrado do Ministério Público do Foro Militar. Foto: DR
- Publicidade -


Numa noite qualquer, na Centralidade da Quilemba, no Lubango, província da Huíla, mesmo não sendo de luar, quis o destino reunir um quarteto de jovens angolanos e como sempre em volta de uma temática do nosso quotidiano.

Desta vez, a conversa girava em torno dos princípios como repetia sempre o genro da Dona Branca.

Por sorte ou azar juntou-se às conversas que se tornam memoráveis o FG da marca que marca, penso que os caros leitores já o conhecem por intermédio do YouTube, plataforma por onde o mesmo tem apresentado os seus magníficos trabalhos.

O FG é mesmo o Fernando Guelengue, o CEO da SELUTU, detentora da Okusima editora, isto é, dos livros que transformam, que editou o “Cronicando com a comparticipação Criminosa – crónicas e artigos jurídico-criminais de um cidadão livre.”

O local do sucesso foi no Bloco K, em minha casa, neste dia, à moda angolana depois de um bom funje de bombó, colocamos as cadeiras no quintal, por onde nos sentamos, enquanto o FG refrescava-se com um sumo de múkua feito, à medida, pela Madame Filipa Baptista, e nós mantivemo-nos no habitual, a celeuma começou e não tinha horas para o seu término.

Revelo-vos aqui e agora que o misterioso genro da Dona Branca é o Sicato, meu companheiro de armas e Sharp de luxo e o “Nguinabom” é o Nguinamau, também companheiro de armas, porque de mau ele não tem nada.

Sem programação e sem uma data comemorativa, mantivemos uma longa conversa agradável, onde o FG emprestou-nos o seu saber na área de psicologia, mostrando-nos as grandes orientações daquele campo do conhecimento, palratório esse que começou por volta das 15 horas e estendeu-se até às zero horas, quando entendemos deixar na cidade o FG, no hotel em que se hospedara, porque se encontrava nesta circunscrição territorial como anfitrião da Conferência Científica Nacional sobre “Os San de Angola: Vida, Civilização e o Direito ao Desenvolvimento”, que decorreu no dia 20 de Dezembro de 2023, no auditório do ISCED-Huíla, tendo-nos convidado para aquele evento.

O estilo rigoroso do Sicato deu-nos a entender que estávamos metidos com um futuro reformador do Estado nas lides de uma acção que a vida nos vai permitir testemunhar, embora ele não perceba desta maneira, ele é o cara do rigor que a família e os amigos já sabem.

Antes da saída para a cidade, um facto saltou-me à vista, foi ele o mais preocupado que o condutor ao solicitar que lhe apresentassem toda a documentação completa da viatura e do condutor para que a madrugada não se tornasse num calvário com os agentes da Polícia Nacional devidamente destacados nos pontos estratégicos que cruzam da Centralidade à cidade do Lubango.

O Sicato dizia que, para ele, os princípios eram inegociáveis e nada mais, ponto final.

Sabe-se que princípios são fundamentos ou preceitos básicos que servem como base para a tomada de decisões ou orientação de acções em diferentes contextos, como ética, ciência, filosofia, entre outros. Eles representam directrizes fundamentais que norteiam comportamentos e decisões.

Reforçada pela visão psicológica do FG, eu defendia a ideia de que: – “ quem comete uma injustiça é mais infeliz do que aquele que a sofre” –, porém, este pensamento foi refutado veementemente por Sicato e Nguinamau, com o fundamento de que quem “fatiga” deve ser igualmente “fatigado” nas mesmas proporções ou em maiores, porque quem sofre determinada injustiça, carrega para todo o sempre as mágoas, a perda de oportunidades, sequelas estas que podem ser irreversíveis na esfera pessoal do injustiçado.

Essa dura tese dos meus companheiros levou-me a contar-lhes um caso prático que se passou comigo, isto é, um colega que tentou apagar a minha luz nas terras do Kuando Kubango, mas quando menos esperávamos, assustou que estávamos embora a “brilhar mesmo na escuridão.”

Do evento acima de que fomos convidados ouvimos o FG a falar com muita eloquência, mestria de um jornalista que é, recebemos de forma gratuita um livro intitulado “O lugar dos San de Angola na construção de uma sociedade multiétnica”, da autoria da Associação Científica de Angola, que quando folhamos o mesmo nos deparamos com o belíssimo prefácio escrito com muita classe, por Ribeiro Tenguna, o autor do best-seller “Quanto Vale a Vida do Africano” que nos instigou à terminar a obra toda em minutos e puder aprender muitas coisas além do Direito.

Ensinamentos desde a famosa e magníficas gravuras rupestres pré-históricas eternizadas nas pedras do “Morro Sagrado dos Mucuísses” em Chitundo-Hulu, o grossónimo Khoisan, a vida e obras daquele povo, todavia, é sobre o êthos que nos chamou mais atenção e pôs-nos a reflectir bastante.

Êthos significa interioridade do acto humano, ou seja, aquilo que gera uma acção genuinamente humana e que brota a partir de dentro do sujeito, âmago do agir, intenção. Assim, com esta noção compreendi melhor o Dr. Venâncio Vicente, comunicólogo e palestrante, campeão da minha banda, meu amigo e uma das provas vivas de que o gueto venceu, num dos seus vídeos publicados nas redes socias, no âmbito do programa Jovens em Destaque (Inspirando sonhos e realizações), quando apelava ao humanismo na problemática do fenómeno vulgo “Talas”, a mina tradicional.

Não é que, daquele colóquio descobrimos que o Nguinamau tem já terminado o seu projecto escrito, uma obra que nos irá apresentar brevemente cujo tema não vamos revelar aqui para não estragar a surpresa, mas tem que ver com área da criminalística, editoras que o contactem, porque aí vem um best-seller.

Foi memorável aquele abocamento que não há espaços suficiente para descrevê-lo restando-me só, apenas mandar um “props” para Fernando Guelengue, Sicato, Nguinamau e Ribeiro Tenguna, feliz ano novo!

___
Marcolino Baptista é autor do livro Cronicando com a Comparticipação Criminosa, jurista e magistrado do Ministério Público do Foro Militar, colocado na Procuradoria Militar da 6ª Divisão da Região Militar Sul (Matala – Huíla).

Deixe o seu comentário
Artigo anteriorMorreu reverendo José Belo Chipenda
Próximo artigoSó o primeiro mundo que não tem – Guigo Ribeiro

DEIXE O SEU COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui